domingo, 22 de abril de 2012

Sintagma Nominal e Sintagma Verbal


A CLASSE DOS SINTAGMAS
Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras que, juntas, desempenham uma função na frase. 
A combinação das palavras para formarem as frases não é aleatória; precisamos obedecer a determinados princípios da língua. As palavras se combinam em conjuntos, em torno de um núcleo. E é esse conjunto (o sintagma) que vai desempenhar uma função no conjunto maior, que é a frase.
Leia os exemplos:
O turista                                            viajou.
O jovem turista estrangeiro           viajou de trem.
Aquele jovem turista                       viajou de trem para São Paulo.                                      
Nenhum turista                                viajou de trem para São Paulo ontem.
O turista estrangeiro                       viajou.
O turista e sua família                     viajaram.     
A unidade sintagmática é considerada um agrupamento intermediário entre o nível do vocábulo e o da oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos se unem (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração.
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em torno de um núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma verbal.
"Chama-se sintagma uma sequência de palavras que constituem uma unidade (sintagma vem de uma palavra grega que comporta o prefixo sin-, que significa com, que encontramos, por exemplo, em simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação de elementos compostos num conjunto, organizados num todo, funcionando conjuntamente. (…) sintagma significa, por definição, organização e relações de dependência e de ordem à volta de um elemento essencial. "
(Dubois-Charlier. Bases de Análise linguística)
O especialista não respondeu todas as perguntas.
O especialista        não respondeu todas as perguntas.
sintagma nominal                                 sintagma verbal
O especialista         não respondeu           todas as perguntas.
sintagma nominal              modificador + verbo          sintagma nominal
O especialista           não respondeu          todas as perguntas.
det. + núcleo nominal         advérbio + núcleo verbal      det. + det. + núcleo nominal

Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham, dentro dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome substantivo que funciona como núcleo pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou orações subordinadas adjetivas. Desta maneira, é evidente que existe, dentro do sintagma, uma organização em que os vocábulos, dependendo de sua posição e da relação que estabelecem entre si, desempenham diferentes funções.
As unidades sintáticas da língua (sistema de unidades hierarquizadas) apresentam-se sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são relacionadas por um conjunto de mecanismos formais. Conforme Azeredo (1990),
"A estrutura gramatical do português comporta vários níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior. Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima deste, o dos sintagmas, a que se superpõe o das orações. Assim, temos: PERÍODO, ORAÇÃO, SINTAGMA, VOCÁBULO, MORFEMA. "
Leia o poema de Cecília Meireles e observe os níveis de estruturação do enunciado:
Texto 1
                           Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.
(Cecília Meireles)
Comentário sobre o texto 1
Neste poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando proveito principalmente do aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos referimos acima podem ser apontados no texto:

nível do período            O colar de Carolina
                                          colore o colo de cal,
                                          torna corada a menina. 

nível da oração              O colar de Carolina
                                          colore o colo de cal /
                                          torna corada a menina. 

nível do sintagma          O colar de Carolina (SN)
                                          colore o colo de cal (SV)
                                          torna corada a menina (SV)

nível do vocábulo           Com/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre /
                                           por/ entre/ as/ colunas / de/ a /colina. 

nível do vocábulo            O / col/ar / de / Carolina /
                                           color/e / o / col/o /de/ cal/,
                                           torn/a / cor/a/d/a /a/ menin/a. 

As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período no âmbito da sintaxe e os níveis do morfema e do vocábulo, no âmbito da morfologia. No entanto, geralmente não tomam conhecimento do nível do sintagma - intermediário entre vocábulos e oração. E, como mostra Azeredo:
"... os vocábulos não se unem para formar a oração do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas, que são os verdadeiros constituintes da oração."
Com o poema "Colar de Carolina", podemos exemplificar esses conceitos: diversos vocábulos que se organizam em blocos, os sintagmas, para então formarem orações.
O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível intermediário, o sintagma, essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração. Surgem então algumas perguntas:
Como reconhecer um sintagma?
Basta haver mais de um vocábulo para existir sintagma?
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?

Outras perguntas podem aparecer, mas, por enquanto, vamos tentar responder a essas que nos parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos.
 No livro Iniciação à sintaxe (Azeredo: 1990), encontra-se uma boa resposta para a primeira questão: Como podemos reconhecer um sintagma? Segundo o autor, três são as maneiras de isolar as unidades que constituem a oração, ou seja, os sintagmas: o deslocamento, a substituição e a coordenação.
No livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga:
"A noite chegava cedo em Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra - quase que de repente, como caindo - já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas, em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado farejando."
A primeira frase vai nos servir para explicar com clareza a questão levantada.
A noite chegava cedo em Manarairema.
Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as sequências formadas pelos mesmos vocábulos, porém agrupados assim:
*Noite a chegava cedo em Manarairema.
*Em chegava noite a cedo Manarairema.

No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de vocábulos da frase inicial, sem prejuízo da compreensão:
Chegava cedo em Manarairema a noite.
Em Manarairema a noite chegava cedo.

Essa inversão da ordem é possível porque mantivemos os grupos (A noite, em Manarairema), mudando, apenas, sua posição. Essa possibilidade de deslocamento prova que cada grupo é um sintagma. Além disso, podemos fazer substituição de sequência por unidade simples:
A noite chegava cedo em Manarairema.
Ela chegava cedo em Manarairema.

A noite chegava cedo em Manarairema.
A noite chegava cedo lá.

Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de substituição por unidades simples.
Finalmente, podemos usar um elo coordenativo e que vai mostrar a união de duas unidades do mesmo nível. (Como professor e aluno, serra e mar...) Teremos então:
A noite e a escuridão chegavam cedo em Manarairema.
em que "a escuridão" é equivalente a "a noite" e por isso pode substituí-la:
A escuridão chegava cedo em  Manarairema.
Assim, reconhecemos um sintagma por meio do deslocamento ou mobilidade, da substituição por unidades simples e da coordenação. Por outro lado, apesar de nos referirmos a "grupo de vocábulos", o sintagma pode também ser formado de um só vocábulo, como em:
Manarairema vai sofrer a noite.
Manarairema esperou impaciente.

Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma, nem é necessário mais de um vocábulo para haver sintagma.
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?

As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por exemplo, se alguém pergunta: "Como são formados os sintagmas?" - a resposta provavelmente será: - Depende do tipo de sintagma. Daí concluímos que há mais de um tipo. Ou então, se a pergunta é: "Todas as classes podem formar sintagmas?" - responderíamos que as classes de vocábulos entram na formação dos sintagmas, mas a participação não é igual; há classes que são núcleo, outras determinantes, outras modificadores, depende do tipo... e assim por diante.
Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que:
· podemos reconhecer a classe dos sintagmas;
· há procedimentos para provar a sua existência;
· há mais de um tipo de sintagma;
· os vocábulos se unem para formar sintagmas;
· os sintagmas formam a oração.

Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu núcleo. Assim, temos, em português, duas classes de sintagmas: o sintagma nominal (SN) - que tem o nome como núcleo - e o sintagma verbal (SV) - que tem o verbo como núcleo. Funcionando como modificador de um ou de outro, temos o sintagma preposicionado.

sábado, 21 de abril de 2012

Paralelismos

Por que estiudar paralelismo?
O paralelismo dá clareza à frase. Pode ser sintático e semântico.
Para melhor compreensão encontram-se nesta página 03 resumos abordando o assunto. Assim o leitor poderá escolher o que considerar melhor para os seus estudos. No final encontrará uma lista de exercícios práticos.

Paralelismo sintático e paralelismo semântico - recursos que compõem o estilo textual
(Resumo 1)
Notadamente, a construção textual é concebida como um procedimento dotado de grande complexidade, haja vista que o fato de as ideias emergirem com uma certa facilidade não significa transpô-las para o papel sem a devida ordenação. Tal complexidade nos remete à noção das competências inerentes ao emissor diante da elaboração do discurso, dada a necessidade de este se perfazer pela clareza e precisão.
Infere-se, portanto, que as competências estão relacionadas aos conhecimentos que o usuário tem dos fatos linguísticos, aplicando-os de acordo com o objetivo pretendido pela enunciação. De modo mais claro, ressaltamos a importância da estrutura discursiva se pautar pela pontuação, concordância, coerência, coesão e demais requisitos necessários à objetividade retratada pela mensagem.
Atendo-nos de forma específica aos inúmeros aspectos que norteiam os já citados fatos linguísticos, ressaltamos determinados recursos cuja função se atribui por conferirem estilo à construção textual – o paralelismo sintático e semântico. Caracterizam-se pelas relações de semelhança existente entre palavras e expressões que se efetivam tanto de ordem morfológica (quando pertencem à mesma classe gramatical), sintática (quando há semelhança entre frases ou orações) e semântica (quando há correspondência de sentido entre os termos).
Casos recorrentes se manifestam no momento da escrita indicando que houve a quebra destes recursos, tornando-se imperceptíveis aos olhos de quem a produz, interferindo de forma negativa na textualidade como um todo. Como podemos conferir por meio dos seguintes casos:
Durante as quartas-de-final, o time do Brasil vai enfrentar a Holanda.
Constatamos a falta de paralelismo semântico, ao analisarmos que o time brasileiro não enfrentará o país, e sim a seleção que o representa. Reestruturando a oração, obteríamos:
Durante as quartas-de-final, o time do Brasil vai enfrentar a seleção da Holanda.
Se eles comparecessem à reunião, ficaremos muito agradecidos.
 Eis que estamos diante de um corriqueiro procedimento linguístico, embora considerado incorreto, sobretudo, pela incoerência conferida pelos tempos verbais (comparecessem/ficaremos). O contrário acontece se disséssemos:
Se eles comparecessem à reunião, ficaríamos muito agradecidos.
Ambos relacionados à mesma ideia, denotando uma incerteza quanto à ação.
Ampliando a noção sobre a correta utilização destes recursos, analisemos alguns casos em que eles se aplicam:  
não só... mas (como) também:
A violência não só aumentou nos grandes centros urbanos, mas também no interior.
Percebemos que tal construção confere-nos a ideia de adição em comparar ambas as situações em que a violência se manifesta.
Quanto mais... (tanto) mais:
Atualmente, quanto mais se aperfeiçoa o profissionalismo, mais chances tem de se progredir.
Ao nos atermos à noção de progressão, podemos identificar a construção paralelística.
Seja... Seja; Quer... Quer; Ora... Ora:
A cordialidade é uma virtude aplicável em quaisquer circunstâncias, seja no ambiente familiar, seja no trabalho.
Confere-se a aplicabilidade do recurso mediante a ideia de alternância.
Tanto... Quanto:
As exigências burocráticas são as mesmas, tanto para os veteranos, quanto para os calouros.
Mediante a ideia de adição, acrescida àquela de equivalência, constata-se a estrutura paralelística.
Não... E não/nem:
Não poderemos contar com o auxílio de ninguém, nem dos alunos, nem dos funcionários da secretaria.
Recurso este empregado quando se quer atribuir uma sequência negativa.
Por um lado... Por outro:
Se por um lado, a desistência da viagem implicou economia, por outro, desagradou aos filhos que estavam no período de férias.
O paralelismo efetivou-se em virtude da referência a aspectos negativos e positivos relacionados a um determinado fato.
Tempos verbais:
Se a maioria colaborasse, haveria mais organização.
Como dito anteriormente, houve a concordância de sentido proferida pelos verbos e seus respectivos tempos.
PARALELISMO SINTÁTICO E SEMÂNTICO
( Resumo 2)
Certas palavras e expressões apresentam entre si relações de semelhança que podem se dar morfologicamente (quando as palavras são da mesma classe gramatical), sintaticamente (quando as construções das orações ou das frases são semelhantes) ou  semanticamente (quando há correspondência no sentido). A essas relações de semelhança chamamos de paralelismo
Paralelismo sintático
Há paralelismo sintático se entre expressões, orações ou partes de um texto houver uma relação de igualdade. Essa igualdade é estabelecida quando os dois elementos paralelos apresentam a mesma estruturação, como: verbo no infinitivo e verbo no infinitivo, substantivo e substantivo, verbo no subjuntivo e verbo no subjuntivo. Alguns termos coesivos, como os conectivos, auxiliam na construção do paralelismo entre dois elementos. Observe:
•não só... como/ mas também
•quanto mais... tanto mais
•seja... seja, quer... quer, ora... ora
•tanto... quanto
• primeiro...; segundo...
•não... e não/nem
• por um lado..., por outro
Leia o texto abaixo para entender melhor o paralelismo sintático:
Paralelismo sintático torna texto mais preciso
“Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço...”.
O trecho, recentemente publicado na  Folha, fere o princípio do paralelismo sintático, segundo o qual quaisquer elementos da frase coordenados entre si devem apresentar estrutura gramatical similar .Para que a frase tivesse simetria, os núcleos do objeto direto do verbo “defender” teriam de ser de mesma natureza (ambos verbos ou ambos substantivos). Assim:  “...não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou a volta da produção estatal de aço...”. Ou:  “...não se trata de defender que o Estado intervenha mais na economia ou que volte a produzir aço...”.O princípio do paralelismo facilita a leitura do enunciado e proporciona clareza à expressão. Na maioria das vezes é intuído pelo próprio falante. Há certas expressões – por exemplo, os pares correlativos “não só... mas também”, “tanto... como”, “seja... seja”, “quer... quer”, “antes... que” – que criam no leitor expectativa de uma construção simétrica ou paralela. Assim, dizemos: “Ele não só trabalha mas também estuda.” Mas possivelmente não diríamos: “Ele não só trabalha mas também é estudante”. Um período como: “Trata-se de um argumento forte e que pode encerrar o debate...”rigorosamente fere o principio do paralelismo sintático, pois o substantivo argumento é modificado pelo adjetivo  forte e pela oração subordinada adjetiva que pode encerrar o debate... E a conjunção e deveria coordenar elementos de valor sintático idênticos (ou dois adjetivos, ou duas orações subordinadas adjetivas).Eliminando-se a coordenação, o enunciado flui sem exigir a simetria. Assim: “Trata-se deum argumento forte, que pode encerrar o debate...”.Também seria possível empregar dois adjetivos: “Trata-se de um argumento  forte, capaz de encerrar o debate...”. Ou mesmo duas orações adjetivas: “Trata-se de um argumento que é forte e que pode encerrar  o debate...”.É comum que a ausência de simetria ocorra na colocação da partícula negativa. No seguinte trecho: “Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio do acúmulo de imagens”, extraído de questão da Fuvest, o paralelismo estaria garantido caso o advérbio não fosse colocado antes da expressão de modo escancarado,  pois o método ocupa a tela não de um jeito, mas de outro. Não é a ação de ocupar que deve ser negada.
Paralelismo sintático com quebra semântica
Como recurso expressivo, algumas vezes encontra-se paralelismo sintático entre termos que, semanticamente, não se esperaria que estivessem coordenados. Saiba mais através da leitura do texto abaixo:
Falta de paralelismo semântico cria efeito de estilo
[...] Em: “Ele hesitava entre ir ao cinema ou ir ao teatro”, falta simetria no plano sintático. O uso da preposição entre pressupõe a existência de dois elementos de mesmo valor sintático ligados pela conjunção e. Como a conjunção ou indica alternativa, é possível ocorrer confusão num contexto como esse .É preciso lembrar, entretanto, que a preposição entre delimita um intervalo entre dois pontos definidos. Daí o motivo de reger dois elementos ligados por e. Mas, atenção. Embora claro do ponto de vista do paralelismo sintático, um enunciado como “ A diferença entre os alunos e as carteiras disponível na sala é muito grande” contém um problema semântico. Alunos e carteiras não são elementos comparáveis entre si. A diferença a que se refere a sentença é numérica. Então, o ideal é dizer: “A diferença entre o número de alunos e o de carteiras disponível na sala é muito grande”. Agora, sim, a informação ganhou precisão. Faltava na frase oque chamamos de paralelismo semântico, ou seja, a simetria no plano das ideias. Esse é o mesmo problema verificado em construções do tipo: “O time brasileiro vai enfrentar a França nas eliminatórias”. Ora, um time não pode enfrentar um país. Então, entre outras possibilidades: “O time brasileiro vai enfrentar a seleção da França” ou “O Brasil vai enfrentar a França”. Preservar o paralelismo semântico é tão importante quanto preservar o paralelismo sintático. Mas, na pena de um bom escritor, a quebra de simetria semântica pode resultar curiosos efeitos de estilo. Não foi outra coisa o que fez Machado de Assis no conhecido trecho de Memórias póstumas de Brás Cubas, em que, irônica e amargamente, o narrador diz: “Marcela amou-me durante 15meses e 11 contos de réis”. No mesmo livro: “antes cair das nuvens que de um terceiro andar”. O uso deste artifício pode ser uma das marcas estilísticas do autor. [...] No conto O enfermeiro,  ao anunciar que vai relatar um episódio, o narrador adverte que poderia contar a sua vida inteira, “mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel ”. O elemento  papel , disposto nesta sequência, surpreende o leitor e instaura o discurso irônico. Ter ou não ter  papel para escrever é algo prosaico. A falta de ânimo, um problema pessoal, está em outro patamar semântico. Essa interpenetração de planos é um dos articuladores do tom irônico do discurso machadiano.
Referências bibliográficas
ABREU, Antônio Suárez. Curso de Redação. São Paulo: Ática, 2002.GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 13ª ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986.
FIORIN, José Luiz ; SAVIOLI, Francisco Platão. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1992.
PEREIRA, Helena Bonito; PELACHIN, Márcia Maísa.  Português – Na trama do texto. São Paulo: FTD, 2004.

Paralelismo semântico e paralelismo sintático 
(Resumo 3)
"A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas do nosso tempo. Não está somente redefinindo a América Latina, mas também a economia do mundo inteiro."
Algumas construções sintáticas, em geral as que envolvem os conectivos de adição e certas estruturas correlativas, requerem, a bem da clareza, a organização paralelística.
Do ponto de vista semântico, uma construção como "Gosto de frutas e de livros" causaria estranheza, embora, do ponto de vista sintático, esteja perfeita. Estamos diante de um caso de quebra do paralelismo semântico, que se caracteriza pela quebra da expectativa do leitor.
Machado de Assis, entre outros escritores, explorou os efeitos estéticos desse tipo de defeito de construção. Está no seu "D. Casmurro" a formulação "um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu", em que criou um delicioso efeito de estilo.
A falta de paralelismo semântico talvez seja mais facilmente percebida que a falta de paralelismo sintático. Esta ocorre quando uma estrutura irregular ocupa o lugar de uma estrutura repetitiva, também quebrando a expectativa do leitor.
Quando começamos um período da seguinte maneira: "Tanto os países da América do Sul", esperamos que a continuação seja algo do tipo "quanto/ como os...". Isso ocorre porque "tanto... como/ quanto" é uma estrutura correlativa (a primeira parte "chama" a segunda). Se disséssemos, portanto, "Tanto os países da América do Sul e os da América Central", teríamos a quebra do paralelismo sintático, embora, do ponto de vista semântico, não houvesse defeito.
O fragmento selecionado apresenta uma das mais frequentes quebras do paralelismo sintático. O último período organiza-se por meio do par correlativo "não somente... mas também". Ocorre, entretanto, que a primeira parte da estrutura foi interrompida pela forma verbal ("não está somente") e, de quebra, a locução "está redefinindo" também foi interrompida. Uma simples ordenação dos termos resultaria em "Está redefinindo não somente".
Observe que, se o redator optasse por "Não somente está redefinindo", a segunda parte da oração deveria conter outro verbo ("Não somente está redefinindo... mas também está fazendo crescer ...", por exemplo). Como a ideia era dizer que a ascensão Brasil está redefinindo as duas coisas (América Latina e economia do mundo inteiro), a correlação deve vir depois do verbo. Assim:
A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas do nosso tempo. Está redefinindo não somente a América Latina mas também a economia do mundo inteiro.
Se, porventura, a ideia fosse dizer que a ascensão do Brasil está redefinindo a economia da América Latina e a economia do resto do mundo, o ideal seria o seguinte:
A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas do nosso tempo. Está redefinindo a economia não somente da América Latina mas também do mundo inteiro.
Outra opção seria a seguinte:
A ascensão do Brasil como um gigante econômico é um dos maiores temas do nosso tempo. Está redefinindo não somente a economia da América Latina mas também a do mundo inteiro.

EXERCÍCIOS
PARALELISMO SINTÁTICO
- Os termos e orações com funções iguais devem ter estruturas iguais.
- Se, por exemplo, um verbo pede dois objetos diretos, ambos devem ter a mesma construção sintática.
- Orações coordenadas entre si devem apresentar a mesma estrutura gramatical, ou seja, deve haver paralelismo.
- O paralelismo dá clareza à frase ao apresentar estruturas idênticas, pois para ideias similares devem corresponder formas verbais similares.
REVENDO EXEMPLOS:
1) Paralelismo nas Construções:
a) Ricardo estava aborrecido por ter perdido a hora do teste e porque seu pai não o esperou.
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b) Manda-me notícias de minha prima Isoldina e se meu pai resolveu aquele problema que o atormentava.
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2) Paralelismo Semântico:
a) Meu pai pratica tênis e faz um ótimo churrasco.
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b) Ela possui lindos cabelos loiros, um corpo fantástico e muita simpatia.
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PRATICANDO:
1. Nas frases abaixo há erros de paralelismo sintático, reescreva-as.
a) Os ministros negaram estar o governo atacando a Assembleia e que ele tem feito tudo para prolongar a votação do projeto.
b) O presidente sentia-as acuado pelas constantes denúncias de corrupção em seu governo e o crescimento na Constituinte da pressão em favor da fixação de seu mandato em quatro anos.
c) Quando o ditador morreu,  seu porta-voz conseguir transformar-se no comandante das Forças de Defesa e que era o homem forte do país.
d) Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado na economia ou que o Estado volte a produzir aço…
e) Ele não só trabalha mas também é estudante.
f) Trata-se de um argumento forte e que pode encerrar o debate.
g) Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio de acúmulo de imagens.
h) Funcionários cogitam nova greve e isolar o governador.
i) Pedida a prisão de petista e empresário. Lula e Dantas têm duas semanas para recorrer.
j) Ele hesitava entre ir ao cinema ou ir ao teatro.
l) Eu gosto de açaí, mamão e melão.
2. Adaptado do Teste de Pré-Seleção para o Instituto Rio Branco (CESPE) de 2006:
No trecho “Insulado deste modo no país, que não o conhece, em luta aberta com o meio, que lhe parece haver estampado na organização e no temperamento a sua rudeza extraordinária, nômade ou mal fixo à terra…” observa-se perfeito paralelismo sintático? Sim ou não?
3. Adaptado do Teste de Pré-Seleção para o Instituto Rio Branco (CESPE) de 2005:
No trecho: Ao menos uma vez na vida, todos os autores tiveram ou terão de ser Luís de Camões, mesmo se não escreveram as redondilhas entre fidalgos da corte e censores do Santo Ofício, entre os amores de antanho e as desilusões da velhice prematura, entre a dor de escrever e a alegria de ter escrito, foi a este homem doente que regressa pobre da Índia, aonde muitos só iam para enriquecer, foi a este soldado cego de um olho e golpeado na alma, foi a este sedutor sem fortuna que não voltará nunca mais a perturbar os sentidos das damas do paço, que eu pus a viver no palco da peça de teatro chamada: Que Farei com Este Livro?, em cujo final ecoa uma outra pergunta, aquela que importa verdadeiramente, aquela que nunca saberemos se alguma vez chegará a ter resposta suficiente: “Que farei com este livro?”
A menção ao sofrimento de Luís de Camões está construída por meio do paralelismo sintático introduzido pela forma “foi a este”. Certo ou errado?

4. Adaptado do Teste de Pré-Seleção para o Instituto Rio Branco (CESPE) de 2005:
No trecho: “O período que se seguiu à Grande Guerra pode ser decomposto em três grandes fatias: de 1919 a 1924–28, quando todos os países europeus procuraram liquidar os resquícios deixados pela guerra e voltar às condições econômicas normais, equivale dizer, às condições dominantes em 1914; de 1924–28 a 1931–33, com o grande surto de prosperidade, que trazia, no seu bojo, os elementos da crise detonada nos EUA em 1929; de 1932–33 a 1939, quando os governos se empenharam no esforço coletivo para superar a crise, desenvolvendo práticas intervencionistas não adotadas até então.”
O paralelismo sintático seria observado com mais rigor gramatical caso se substituísse “com o grande surto de prosperidade” por: quando se assistiu ao grande surto de prosperidade. Certo ou errado?
5. “Amantes dos antigos bolachões penam não só para encontrar os discos, que ficam a cada dia mais raros. A dificuldade aparece também na hora de trocar a agulha, ou de levar o toca-discos para o conserto.” Tendo em vista que no texto acima falta paralelismo sintático, reescreva-o em um só período, mantendo o mesmo sentido e fazendo as alterações necessárias para que o paralelismo se estabeleça.