A CLASSE DOS SINTAGMAS
Sintagma é uma unidade formada por uma ou várias palavras
que, juntas, desempenham uma função na frase.
A combinação das palavras para formarem as frases não é
aleatória; precisamos obedecer a determinados princípios da língua. As palavras
se combinam em conjuntos, em torno de um núcleo. E é esse conjunto (o sintagma)
que vai desempenhar uma função no conjunto maior, que é a frase.
Leia os exemplos:
O turista viajou.
O jovem turista
estrangeiro viajou de trem.
Aquele jovem
turista viajou de trem para São Paulo.
Nenhum turista viajou
de trem para São Paulo ontem.
O turista
estrangeiro viajou.
O turista e sua
família viajaram.
A unidade sintagmática é considerada um agrupamento
intermediário entre o nível do vocábulo e o da oração. Desta maneira, um ou
mais vocábulos se unem (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a
oração.
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam
em torno de um núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal
e sintagma verbal.
"Chama-se sintagma uma sequência de palavras que
constituem uma unidade (sintagma vem de uma palavra grega que comporta o
prefixo sin-, que significa com, que encontramos, por exemplo, em simpatia e
sincronia). Um sintagma é uma associação de elementos compostos num conjunto,
organizados num todo, funcionando conjuntamente. (…) sintagma significa, por
definição, organização e relações de dependência e de ordem à volta de um
elemento essencial. "
(Dubois-Charlier. Bases de Análise linguística)
O especialista não
respondeu todas as perguntas.
sintagma nominal sintagma verbal
sintagma nominal modificador + verbo sintagma nominal
det. + núcleo nominal advérbio + núcleo verbal det. + det. + núcleo nominal
Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma
desempenham, dentro dele, funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo,
o nome substantivo que funciona como núcleo pode ser determinado por artigos,
pronomes e numerais e modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou orações
subordinadas adjetivas. Desta maneira, é evidente que existe, dentro do
sintagma, uma organização em que os vocábulos, dependendo de sua posição e da
relação que estabelecem entre si, desempenham diferentes funções.
As unidades sintáticas da língua (sistema de unidades
hierarquizadas) apresentam-se sob a forma de palavras, sintagmas, orações e são
relacionadas por um conjunto de mecanismos formais. Conforme Azeredo (1990),
"A estrutura gramatical do português comporta vários
níveis. O morfema é a menor unidade dessa estrutura; e o período, a maior.
Acima do nível dos morfemas acha-se o dos vocábulos; acima deste, o dos
sintagmas, a que se superpõe o das orações. Assim, temos: PERÍODO, ORAÇÃO,
SINTAGMA, VOCÁBULO, MORFEMA. "
Leia o poema de Cecília Meireles e observe os níveis de
estruturação do enunciado:
Texto 1
Colar de Carolina
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
(Cecília Meireles)
Comentário sobre o
texto 1
Neste poema, a autora faz um jogo de palavras, tirando
proveito principalmente do aspecto sonoro. Os diversos níveis a que nos
referimos acima podem ser apontados no texto:
nível
do período O colar de Carolina
colore
o colo de cal,
torna
corada a menina.
nível
da oração O colar de Carolina
colore
o colo de cal /
torna
corada a menina.
nível
do sintagma O colar de Carolina (SN)
colore o colo de cal (SV)
torna
corada a menina (SV)
nível
do vocábulo Com/ seu/ colar/ de/ coral / Carolina / corre
/
por/
entre/ as/ colunas / de/ a /colina.
nível
do vocábulo O /
col/ar / de / Carolina /
color/e
/ o / col/o /de/ cal/,
torn/a
/ cor/a/d/a /a/ menin/a.
As gramáticas descrevem os níveis da oração e do período no
âmbito da sintaxe e os níveis do morfema e do vocábulo, no âmbito da
morfologia. No entanto, geralmente não tomam conhecimento do nível do sintagma
- intermediário entre vocábulos e oração. E, como mostra Azeredo:
"... os vocábulos não se unem para formar a oração
do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laranja. Os vocábulos não
formam a oração senão indiretamente. Eles se associam em grupos, os sintagmas,
que são os verdadeiros constituintes da oração."
Com o poema "Colar de Carolina", podemos
exemplificar esses conceitos: diversos vocábulos que se organizam em blocos, os
sintagmas, para então formarem orações.
O que nos interessa mais de perto é exatamente esse nível
intermediário, o sintagma, essa espécie de ponte entre os vocábulos e a oração.
Surgem então algumas perguntas:
Como reconhecer um sintagma?
Basta haver mais de um vocábulo para existir sintagma?
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
Outras perguntas podem aparecer, mas, por enquanto, vamos
tentar responder a essas que nos parecem mais prováveis de ocorrer. Vejamos.
No livro Iniciação à
sintaxe (Azeredo: 1990), encontra-se uma boa resposta para a primeira questão:
Como podemos reconhecer um sintagma? Segundo o autor, três são as maneiras de
isolar as unidades que constituem a oração, ou seja, os sintagmas: o
deslocamento, a substituição e a coordenação.
No livro A hora dos ruminantes, de José J. Veiga:
"A noite chegava cedo em
Manarairema. Mal o sol se afundava atrás da serra - quase que de repente, como
caindo - já era hora de acender candeeiros, de recolher bezerros, de se enrolar
em xales. A friagem até então contida nos remansos do rio, em fundos de grotas,
em porões escuros, ia se espalhando, entrando nas casas, cachorro de nariz suado
farejando."
A primeira frase vai nos servir para explicar com clareza a
questão levantada.
A noite chegava cedo em
Manarairema.
Qualquer um de nós rejeitaria ou perceberia como estranhas as
sequências formadas pelos mesmos vocábulos, porém agrupados assim:
*Noite a chegava
cedo em Manarairema.
*Em chegava noite
a cedo Manarairema.
No entanto, podemos trocar a posição de alguns grupos de
vocábulos da frase inicial, sem prejuízo da compreensão:
Chegava cedo em
Manarairema a noite.
Em Manarairema a
noite chegava cedo.
Essa inversão da ordem é possível porque mantivemos os grupos
(A noite, em Manarairema), mudando, apenas, sua posição. Essa possibilidade de
deslocamento prova que cada grupo é um sintagma. Além disso, podemos fazer
substituição de sequência por unidade simples:
A noite chegava
cedo em Manarairema.
Ela chegava cedo
em Manarairema.
A noite chegava
cedo em Manarairema.
A noite chegava
cedo lá.
Aqui também estamos diante de sintagmas: a possibilidade de
substituição por unidades simples.
Finalmente, podemos usar um elo coordenativo e que vai
mostrar a união de duas unidades do mesmo nível. (Como professor e aluno, serra
e mar...) Teremos então:
A noite e a escuridão
chegavam cedo em Manarairema.
em que "a escuridão" é equivalente a "a
noite" e por isso pode substituí-la:
A escuridão chegava
cedo em Manarairema.
Assim, reconhecemos um sintagma por meio do deslocamento ou
mobilidade, da substituição por unidades simples e da coordenação. Por outro lado,
apesar de nos referirmos a "grupo de vocábulos", o sintagma pode
também ser formado de um só vocábulo, como em:
Manarairema vai
sofrer a noite.
Manarairema
esperou impaciente.
Portanto não basta haver um vocábulo para existir sintagma,
nem é necessário mais de um vocábulo para haver sintagma.
Como são formados os sintagmas?
Há mais de um tipo de sintagma ou apenas um?
Todas as classes podem formar sintagmas?
As três perguntas acima estão intimamente relacionadas, por
exemplo, se alguém pergunta: "Como são formados os sintagmas?" - a
resposta provavelmente será: - Depende do tipo de sintagma. Daí concluímos que
há mais de um tipo. Ou então, se a pergunta é: "Todas as classes podem
formar sintagmas?" - responderíamos que as classes de vocábulos entram na
formação dos sintagmas, mas a participação não é igual; há classes que são
núcleo, outras determinantes, outras modificadores, depende do tipo... e assim
por diante.
Por tudo o que foi dito até agora, é possível afirmar que:
· podemos reconhecer a classe dos sintagmas;
· há procedimentos para provar a sua existência;
· há mais de um tipo de sintagma;
· os vocábulos se unem para formar sintagmas;
· os sintagmas formam a oração.
Convém lembrar que a natureza do sintagma depende do seu
núcleo. Assim, temos, em português, duas classes de sintagmas: o sintagma
nominal (SN) - que tem o nome como núcleo - e o sintagma verbal (SV) - que tem
o verbo como núcleo. Funcionando como modificador de um ou de outro, temos o
sintagma preposicionado.