sábado, 7 de dezembro de 2013

AULA DE METODOLOGIA CIENTÍFICA































Material de apoio


A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA NA ESCOLA

Os alunos, em sua maioria, não buscam respostas para seus questionamentos acerca de diversos assuntos, quando estão resolvendo exercícios que necessitam de uma pesquisa dentro do texto ficam desanimados e muitas vezes desistem.

A pesquisa pode ser um grande instrumento na construção do conhecimento do aluno, por isso se faz necessário, sempre que possível, que o professor mande algum tema para pesquisa relacionado com o conteúdo, a fim de contribuir na construção da aprendizagem.

Por meio da pesquisa o aluno tem possibilidade de descobrir um mundo diferente, coisas novas, curiosidades. Dessa forma, o professor tem a incumbência de gerenciar e orientar os seus alunos na busca de informações, sua função é disponibilizar referências bibliográficas, oferecendo melhores condições de desenvolvimento da pesquisa. Além de atuar na orientação da construção de textos a partir do material da pesquisa, o professor deve ensinar como retirar as partes mais importantes do conteúdo pesquisado. Outro ponto de grande relevância que o educador deve abordar é a conscientização de que uma pesquisa não é uma mera cópia e sim uma síntese de um conjunto de informações.

A etapa técnico-científica informacional que a humanidade está atravessando e a ascensão dos meios de comunicação tem facilitado o acesso às informações, desse modo, podem ser usados como base de pesquisas: livros, revistas, artigos científicos, enciclopédias, documentários, entrevistas, internet entre outras.

A pesquisa na escola não deve ter apenas o objetivo de ocupar o aluno, de modo que o mesmo não fique sem fazer nada em casa, sua finalidade vai além, formar pessoas curiosas acerca do que se passa no mundo, assim, por meio dessa busca, o conhecimento será construído pelo próprio educando.
Por Eduardo de Freitas - Graduado em Geografia - Equipe Brasil Escola


Um certo olhar sobre a pesquisa
( Gérard-B. Martin Aufil des événement, 6 de dezembro de 1994 (Jornal da Universidade Laval)1

Que alegria, diz a Eternidade,
Ver o filho de minha esperança
Apaixonar-se pela pesquisa,
Pois em sua mente
Coloquei inúmeros de meus sonhos
E gostaria tanto que se tornassem realidade.
A pesquisa,
Começou a explicar a Eternidade,
É, antes de qualquer coisa, o gesto do jovem camponês
Que se vai,
Resolvendo a pedra dos campos,
Descobrindo lesmas e gafanhotos,
Ou milhares de formigas atarefadas.
A pesquisa,
É a caminhada pelos bosques e pântanos
Para tentar explicar,
Vendo folhas e flores,
Por que a vida apresenta tantos rostos.
A pesquisa,
É a fusão, em um só crisol,
De observações, teorias e hipóteses
Para ver se cristalizar
Algumas parcelas de verdade.
A pesquisa,
É, ao mesmo tempo, trabalho e reflexão
Para que os homens
Achem todos um pouco de pão
E mais liberdade.
Também é o olhar para o passado
Para encontrar nos antigos
Alguns grãos de sabedoria
Capazes de germinar
No coração dos homens de amanhã.
A pesquisa
É o tatear em um labirinto,
E aquele que não conheceu a embriaguez de procurar seu rumo
Não sabe reconhecer o verdadeiro caminho.
A pesquisa
É a surpresa, a cada descoberta,
De se ver recuar as fronteiras do desconhecido;
Como a natureza, cheia de mistérios,
Procurasse fugir de seu descobridor.
A pesquisa,
Diz finalmente a Eternidade,
É o trabalho do jardineiro
Que quer se tornar,
No jardim de minha criação,
O parceiro de minhas esperanças.
1 Citado em LAVILLE, Christian. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Arte Médicas; Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. pp. 278/279

RESENHA

Resenhar significa fazer uma relação das propriedades de um objeto, enumerar cuidadosamente seus aspectos relevantes, descrever as circunstâncias que o envolvem.

O objeto resenhado pode ser um acontecimento qualquer da realidade (um jogo de futebol, uma comemoração solene, uma feira de livros) ou textos e obras culturais (um romance, uma peça de teatro, um filme).

A resenha, como qualquer modalidade de discurso descritivo, nunca pode ser completa e exaustiva, já que são infinitas as propriedades e as circunstâncias que envolvem o objeto descrito. o resenhador deve proceder seletivamente, filtrando apenas os aspectos pertinentes do objeto, isto é, apenas aquilo que é funcional em vista de uma intenção previamente definida.

Imaginemos duas resenhas distintas sobre um mesmo objeto, o treinamento dos atletas para uma copa mundial de futebol: uma resenha destina-se aos leitores de uma coluna esportiva de um jornal; outra, ao departamento médico que integra a comissão de treinamento. O jornalista, na sua resenha, vai relatar que um certo atleta marcou, durante o treino, um gol olímpico, fez duas coloridas jogadas de calcanhar, encantou a plateia presente e deu vários autógrafos. Esses dados, na resenha destinada ao departamento médico, são simplesmente desprezíveis.

Com efeito, a importância do que se vai relatar numa resenha depende da finalidade a que ela se presta.

Numa resenha de livros para o grande público leitor de jornal, não tem o menor sentido descrever com pormenores os custos de cada etapa de produção do livro, o percentual de direito autoral que caberá ao escritor e coisas desse tipo.

A resenha pode ser puramente descritiva, isto é, sem nenhum julgamento ou apreciação do resenhador, ou crítica, pontuada de apreciações, notas e correlações estabelecidas pelo juízo crítico de quem a elaborou.

A resenha descritiva consta de:

a) uma parte descritiva em que se dão informações sobre o texto:
- nome do autor (ou dos autores);
- título completo e exato da obra (ou do artigo);
- nome da editora e, se for o caso, da coleção de que faz parte a obra;
- lugar e data da publicação;
- número de volumes e páginas.

Pode-se fazer, nessa parte, uma descrição sumária da estrutura da obra (divisão em capítulos, assunto dos capítulos, índices, etc.). No caso de uma obra estrangeira, é útil informar também a língua da versão original e o nome do tradutor (se se tratar de traduçã0).

b) uma parte com o resumo do conteúdo da obra:
- indicação sucinta do assunto global da obra (assunto tratado) e do ponto de vista adotado pelo autor (perspectiva teórica, gênero, método, tom, etc.);
- resumo que apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.

Na resenha crítica, além dos elementos já mencionados, entram também comentários e julgamentos do resenhador sobre as ideias do autor, o valor da obra, etc. Ela consiste na leitura, no resumo, na crítica e na formulação de um conceito de valor da obra feitos pelo resenhista.

A finalidade de uma resenha crítica é informar o leitor, de maneira clara e objetiva, sobre o assunto tratado na obra, evidenciando a contribuição do autor: novas abordagens, novos conhecimentos, novas teorias. Em geral, ela é apresentada por um especialista, que além do conhecimento sobre o assunto, tem capacidade de juízo crítico.

Os requisitos básicos para elaboração de uma resenha crítica são: 
1) conhecimento completo da obra; 
2) competência na matéria; 
3) capacidade de juízo de valor; 
4) independência de juízo, e 
5) fidelidade ao pensamento do autor.

No campo da comunicação técnica e científica, a resenha é de grande utilidade, porque facilita o trabalho do profissional ao trazer um breve comentário sobre a obra e uma avaliação da mesma. A informação dada ajuda na decisão da leitura ou não da obra.

Sua estrutura apresenta, normalmente, os seguintes elementos: 
1) referência bibliográfica; 
2) credenciais do(a) autor(a); 
3) resumo; 
4) conclusões da autoria; 
5) quadro de referências do autor; 
6) apreciação, que inclui fatores como julgamento da obra, mérito da obra, estilo, forma e indicação da obra.




RESUMO

1. Conceito, finalidade e caráter

O resumo é a apresentação concisa e frequentemente seletiva do texto, destacando-se os elementos de maior interesse e importância, isto é, as principais ideias do autor da obra.

A finalidade do resumo consiste na difusão das informações contidas em livros, artigos, teses etc., permitindo a quem o ler resolver sobre a conveniência ou não de consultar o texto completo. O caráter de um resumo depende de seus objetivos: apresentar um sumário narrativo das partes mais significativas, não dispensando a leitura do texto; condensação do conteúdo, expondo ao mesmo tempo as finalidades e metodologia quanto os resultados obtidos e as conclusões da autoria, permitindo a utilização em trabalhos científicos e dispensando, portanto, a leitura posterior do texto original; análise interpretativa de um documento, criticando os diferentes aspectos inerentes ao texto.

O resumo abrevia o tempo dos pesquisadores; difunde informações de tal modo que pode influenciar e estimular a consulta do texto completo. 

Em sua elaboração, devem-se destacar quanto ao conteúdo:
- o assunto do texto;
- o objetivo do texto;
- a articulação das ideias;
- as conclusões do autor do texto objeto do resumo.

Formalmente, o redator do resumo deve atentar para alguns procedimentos:
- ser redigido em linguagem objetiva, concisa, evitando-se a mera enumeração de tópicos;
- evitar a repetição de frases inteiras do original;
- respeitar a ordem em que as ideias ou fatos são apresentados;
- preferencialmente, serão escritos os resumos em 3ª pessoa do singular e com verbos na voz ativa.

Finalmente, o resumo:
- não deve apresentar juízo valorativo ou crítico (que pertencem a outro tipo de texto, a resenha);
- deve ser compreensível por si mesmo, isto é, dispensar a consulta ao original.

2. Como resumir

Os procedimentos para realizar um resumo incluem, em primeiro lugar, descobrir o plano da obra a ser resumida. Em segundo lugar, a pessoa que o está realizando deve responder, no resumo, a duas perguntas: o que o autor pretende demonstrar? De que trata o texto? Em terceiro lugar, deve-se ater às idéias principais do texto e a sua articulação. Muito importante nesta fase é distinguir as diferentes partes do texto. A fase seguinte é a da identificação de palavras-chave. Finalmente, passa-se à elaboração do resumo.

3. Tipos de resumo

A ABNT classifica os resumos em indicativo, informativo, crítico ou recensão.

a) Resumo indicativo ou descritivo: caracterizado como um sumário narrativo, nesse tipo de resumo descrevem-se os principais tópicos do texto original, e indicam-se sucintamente seus conteúdos. Portanto, não dispensa a leitura do texto original para a compreensão do assunto. Quanto à extensão, não deve ultrapassar quinze ouvinte linhas; utilizam-se frases curtas que, geralmente, correspondem a cada elemento fundamental do texto; porém, o resumo descritivo não deve limitar-se à enumeração pura e simples das partes do trabalho.

b) Resumo informativo ou analítico: é o tipo de resumo que reduz o texto a 1/3 ou 1/4 do original, abolindo-se gráficos, citações, exemplificações abundantes, mantendo-se, porém, as ideias principais. Na são permitidas as opiniões pessoais do autor do resumo. O resumo informativo, que é o mais solicitado nos cursos de graduação,, deve dispensar a leitura do texto original para o conhecimento do assunto.

c) Resumo crítico ou recensão: consiste na condensação do texto original a 1/3 ou 1/4 de sua extensão, mantendo as ideias fundamentais, mas permite opiniões e comentários do autor do resumo. Tal como o resumo informativo, dispensa a leitura do original para a compreensão do assunto.

A resenha é um tipo de resumo crítico; contudo, mais abrangente. Além de reduzir o texto, permite opiniões e comentários, inclui julgamentos de valor, tais como comparações com outras obras da mesma área do conhecimento, a relevância da obra em relação às outras do mesmo gênero etc. Será objeto de estudo em outro momento.
           
4. A técnica do resumo quanto à extensão do texto:

a) de parágrafos e capítulos

A técnica de resumir difere, no modo de redigir, quando se trata de um texto curto ou de uma obra inteira. Por texto curto compreende-se o que consta de um parágrafo a um capítulo, embora esta não seja uma classificação rígida.

Parágrafos e capítulos podem ser resumidos aplicando-se a técnica de sublinhar e redigindo-se o resumo pela organização de frases, baseadas nas palavras sublinhadas. Este sistema não constitui regra absoluta, mas tem a vantagem de manter a ordem das idéias e fatos e propiciar a indispensável fidelidade ao texto.

Usar vocabulário próprio ou do autor não é questão relevante, desde que o resumo apresente as principais ideias do texto, de forma condensada.

Um texto mais complexo resume-se com mais facilidade se preliminarmente for elaborado um esquema com as palavras sublinhadas.

Não se admitem acréscimos ou comentários ao texto, mas as opiniões e pontos de vista do autor (do original) devem ser respeitados.

Nos textos bem estruturados, cada parágrafo corresponde a uma só ideia principal. Todavia, alguns autores são repetitivos e usam palavras diferentes, que contêm as mesmas idéias, em mais de um parágrafo, por questões didáticas ou de estilo. Neste caso, os parágrafos reiterativos devem ser reduzidos a um apenas.

b) redação de resumos de livros

O resumo de textos mais longos ou de livros inteiros, evidentemente, não poderá ser feito parágrafo por parágrafo, ou mesmo capítulo por capítulo, a partir do que foi sublinhado.

Neste caso, devem-se adotar os seguintes procedimentos:

- leitura integral do texto, para conhecimento do assunto;
- aplicar a técnica de sublinhar, para ressaltar as idéias importantes e os detalhes relevantes, em cada capítulo;
- reestruturar o plano de redação do autor, valendo-se, para isto, do índice ou sumário, isto é, identificar, pelo sumário, as principais PARTES do livro; em cada parte, os CAPÍTULOS, os títulos e subtítulos. De posse desses elementos, elaborar um plano ou esquema de redação do resumo;
- tomar por base o esquema ou plano de redação, para fazer um rascunho, resumindo por capítulos ou por partes;
- concluído o rascunho, fazer uma leitura, para verificar se há possibilidade de resumir mais, ou se não houve omissão de algum elemento importante. Refazer a redação, com as alterações necessárias, e transcrever em fichas, segundo as normas de fichamentos.

A norma da ABNT recomenda que o resumo tenha até 100 palavras se for de notas e comunicações breves. Se se tratar de resumo de monografias e artigos, sua extensão será de até 250 palavras. Resumo de relatórios e teses podem ter até 500 palavras.
É indispensável considerar o resumo como uma recriação do texto, uma nova elaboração, isto é, uma nova forma de redação que utiliza as ideias do original.

Segundo Andrade (1992, p. 53), o resumo bem elaborado deve obedecer aos seguintes itens:  

1. apresentar, de maneira sucinta, o assunto da obra;
2. não apresentar juízos críticos ou comentários pessoais;
3. respeitar a ordem das ideias e fatos apresentados;
4. empregar linguagem clara e objetiva;
5. evitar a transcrição de frases do original;
6. apontar as conclusões do autor;
7. dispensar a consulta ao original para a compreensão do assunto.


Resenha Crítica: PESQUISA NA ESCOLA: O QUE É, COMO SE FAZ
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. 23. ed. São Paulo: Loyola, 2009.

O ato de pesquisar consiste na busca do conhecimento a partir de fontes diversificadas, analisadas sob diferentes aspectos, tanto para aprender, quanto para ampliar o conhecimento. Diante disto, a pesquisa envolve procurar, diligentemente, respostas a questionamentos, corroborando, desta forma, para a elaboração do conhecimento.

A obra Pesquisa na escola: o que é, como se faz tem sua gênese na indignação de Marcos Bagno  diante da forma superficial em que as pesquisas escolares na maioria das vezes são encaminhadas. A partir de uma abordagem reflexiva, o autor apresenta sugestões no intuito de transformar a prática da pesquisa em sala de aula numa verdadeira fonte de aquisição de conhecimento.

Para sintetizar a ideia-chave que orienta a reflexão aqui estabelecida, tomaremos por empréstimo as palavras do autor:

"(...) a pesquisa é, mesmo, uma coisa muito séria. Não podemos tratá-la com indiferença, menosprezo ou pouco caso na escola. Se quisermos que nossos alunos tenham algum sucesso na sua atividade futura – seja ela do tipo que for: científica, artística, comercial, industrial, técnica, religiosa, intelectual... – é fundamental e indispensável que aprendam a pesquisar. E só aprenderão a pesquisar se os professores souberem ensinar (BAGNO, 2009, p. 21)".
Segundo as premissas de Bagno, no âmbito educacional, a pesquisa tem como especificidade produzir um conhecimento novo a respeito de um determinado assunto, relacionando os dados obtidos ao conhecimento prévio do aluno. Para que isso ocorra dois fatores são essenciais na obtenção do êxito neste processo: o aluno deve ser o sujeito de sua educação ao passo que, cabe ao professor atuar como mediador do percurso. O educador deve respeitar os saberes que os alunos adquiriram em sua história de vida, estimulando-os a sua superação por meio do despertar da curiosidade que os instiga à imaginação, à observação, a questionamentos, alcançando uma explicação epistemológica. 

Neste momento, para melhor ilustrar o que foi dito, cabe mencionar as palavras de Freire:

"Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2004, p. 29)".

A escola tem a missão não de “transmitir conteúdos”, mas, de ensinar a aprender, criando possibilidades, indicando caminhos e, principalmente, orientando o aluno para que este desenvolva um olhar crítico e construa sua autonomia. A aprendizagem adequada amplia-se dentro do processo de pesquisa do professor, no qual ambos – professor e aluno – aprendem, pensam e aprendem a aprender.

Muito pensam, equivocadamente, que a pesquisa deve iniciar-se na fase acadêmica e apenas nesta fase a maioria dos estudantes é levada a produzir textos de usa autoria. Entretanto, essa prática deveria fazer parte do cotidiano escolar do aluno desde a Educação Básica, pois pode tornar-se uma grande aliada do professor no processo de ensino e aprendizagem. Junto às discussões diárias constitui-se num forte instrumento auxiliar para desenvolver a reflexão, o espírito argumentativo e a capacidade argumentativa do aluno.

Em sua obra, Marcos Bagno confere realce ao fato que a pesquisa, quando bem utilizada e encaminhada com vigor, valoriza o questionamento, estimula a curiosidade, alimenta a dúvida, supera paradigmas. Além disso, torna a aula mais atrativa, amplia os horizontes do conhecimento do aluno, desperta a consciência crítica que leva o indivíduo à superação e transformação da realidade.

Com nuances de criticidade, Bagno afirma que no Ensino Fundamental, onde se inicia a escolarização, pouca ênfase ou orientação são disponibilizadas aos educandos quanto ao direcionamento da pesquisa escolar. Para o autor, um dos fatores determinantes dessa concepção decorre da precária formação dos professores em suas graduações e a falta de trabalhar com o tema na formação continuada dos mesmos são indícios da desqualificação da pesquisa no Ensino Fundamental.

Outro fator preponderante que foi destacado na obra do autor supracitado é a necessidade de reflexão crítica sobre a prática educativa para evitar a reprodução alienada, promovendo possibilidades para o aluno produzir ou construir conhecimentos, pois “(...) ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 2004, p. 47). Mister se faz assinalar que o trabalho de pesquisa terá seu valor anulado se representar uma simples cópia, pois sua relevância dá-se a partir do momento em que se constitui em uma fonte para a reconstrução do conhecimento. Por conseguinte, o educando será capaz de fomentar sua capacidade de argumentação, criticidade e avaliação das diversas situações do conhecimento.

Ainda seguindo a linha do pensamento de Bagno, constata-se que o resultado da pesquisa deve ser o produto da interpretação do aluno diante das diferentes fontes obtidas para a pesquisa. É perceptível a necessidade de preparar os alunos para irem além – além do que falam os livros, além das possibilidades que lhes são oferecidas. Portanto, o professor deve preparar seus alunos para uma constante busca do conhecimento.

Os sujeitos da ação – professor e aluno – devem participar simultaneamente de todo o processo escolar, onde ambos juntos ensinam e também aprendem. É essencial que tanto o aluno quanto o professor se utilizem do ato da pesquisa como prática cotidiana, mas para a obtenção resultado é indispensável que as técnicas de pesquisa sejam discutidas e preparadas para que o processo seja consciente.

A pesquisa configura-se em instrumento basilar para a educação escolar, pois ao adquirir conhecimentos, o aluno capacita-se para intervir de forma competente, crítica e inovadora, na sociedade em que está inserido. Salienta-se que é preciso superar o uso exclusivo do método expositivo de dar aulas, ainda utilizados por muitos professores, em que estes se limitam à função principal de transmitir conhecimentos já elaborados, o que define como cópia, prejudicando o aluno, pois o transforma em mero objeto de ensino e instrução.

Bagno enfatiza que este espaço da sala de aula precisa ser repensado, transformado e o professor deve passar a se interessar pela aprendizagem de cada aluno, criando um relacionamento tranquilo e participativo. Neste contexto, é fundamental desenvolver o espírito de trabalho em equipe visando evitar competições individuais, considerando-se que a construção da cidadania depende de uma organização solidária.

Tendo em vista os argumentos apresentados neste trabalho, pode-se apreender a importância de a pesquisa ser trabalhada desde o Ensino Fundamental, pois “afinal, existem coisas que quando não são aprendidas desde cedo, deixam sempre ‘buracos’ na formação de um indivíduo” (BAGNO, 2009, p. 16). É essencial para a trajetória do estudante que a pesquisa seja estimulada e acompanhado desde as séries inicias, pois se trata da tradução exata do saber pensar e do aprender a aprender. Ao aluno, cria autonomia; ao professor, possibilita estar em constante atualização, conduzindo-o à reavaliação de sua prática, e se preciso for, reinventar seu caminho.

A obra analisada esclarece muitas dúvidas que certamente acompanham não apenas os professores, mas sobretudo os estudantes do Curso de Letras, auxiliando-os na compreensão sistemática acerca do tema abordado. Nessa perspectiva, estudos renovadores como os acometidos no livro de Marcos Bagno, tornam-se essenciais no progresso e na reformulação de muitos conceitos relacionados à pesquisa escolar, além de garantir conteúdos relevantes para a compreensão dos processos que permeiam a atividade de pesquisadora.
Referência:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Concordância e crase



CONCORDÂNCIA E CRASE  (REVISÃO)

1. (VUNESP – 2011) Assinale a alternativa em que a frase – Para achar comida nesses labirintos… É preciso inteligência… E bons dentes! – está reescrita corretamente, no que se refere à concordância.
Para achar comida nesses labirintos,

a) são necessários inteligência e bons dentes.
b) é necessário muita inteligência e bons dentes.
c) é necessária ter inteligência e bons dentes.
d) são necessárias inteligência e bons dentes.
e) são necessário inteligência e bons dentes.

2. (VUNESP – 2011 – SAP-SP – Oficial Administrativo) A Polícia Civil apreendeu 415,4 quilos de crack __________ em uma casa na Avenida Salim Farah Maluf. No local, também __________ dois quilos de maconha. Um homem de 28 anos e um adolescente de 17 __________ .

a) escondidos … havia … foram detidos
b) escondido … havia … foram detido
c) escondidos … haviam … foi detido
d) escondido … haviam … foram detidos
e) escondidos … havia … foram detido

3. (VUNESP) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está correta.

a) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
b) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
c) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que 35% deles fosse despejado em aterros.
d) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
e) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta de lixo.

4. (VUNESP – 2011) Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do trecho.

_____________ 103 toneladas de lixo reciclável diariamente.
_____________ 16 centrais de triagem em São Paulo.

a) Coleta-se. Têm-se
b) Coleta-se. Hoje tem
c) Coletam-se. Existe
d) Coleta-se. São
e) Coletam-se. Hoje existem

5. (VUNESP-2010) Assinale a alternativa correta quanto à concordância verbal.

a) Começaram as investigações pelas ações do jovem soldado.
b) Um jovem soldado e a WikiLeaks divulgou informações secretas.
c) Mais de um relatório diplomático vazaram na internet.
d) Repartições, investimentos, pessoas, nada impediram o jovem soldado.
e) Os telegramas relacionados com o Brasil foi, para o ministro Jobim, muito negativos.

6. (VUNESP) Assinale a frase em que o acento indicador de crase está empregado corretamente.

a) Vendemos CDs à partir de R$ 10.
b) Todos nossos produtos podem ser comprados à prazo.
c) Você será encaminhado à um de nossos gerentes.
d) As peças do mostruário também estão à venda.
e) Você está convidado à conhecer nosso setor de eletrodomésticos.

7. (VUNESP) Assinale a alternativa correta quanto ao uso do acento indicativo da crase.

a) Os catadores andam à pé e coletam lixo reciclável pelas ruas da cidade.
b) O lixo reciclável é destinado à aterros sanitários em municípios vizinhos.
c) Os especialistas estão à procura de soluções para o tratamento do lixo.
d) A prefeitura tem muito à fazer antes de implantar a coleta seletiva do lixo.
e) A notícia do lixo em São Paulo chegou à Vossa Excelência pelo jornal.

8. (VUNESP – 2011) Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas das frases.
_______ situações insustentáveis do lixo na capital. Esse problema chega ____ autoridades que deverão tomar _____ providências cabíveis.

a) As . as . as
b) Há . às . as
c) Há . as . às
d) Às . as . às
e) As . hás . as

9. (VUNESP – 2010) Assinale a alternativa correta quanto ao uso do acento indicativo da crase.

a) Sei que é mulher de um ator chamado Tom Cruise, de quem também só assisti à um filme: “De Olhos Bem Fechados”.
b) Os ortopedistas alertam quando os saltos altos não são adequados à uma estrutura óssea em formação.
c) Os ortopedistas observam que a estrutura óssea em formação só se completará à partir dos 12 ou 13 anos.
d) O problema não se limita às crianças de Hollywood ou àquelas de pais famosos.
e) Estamos gerando crianças-adultos, que dificilmente chegarão à viver a maturidade.

10. (Prova: VUNESP – 2010)

A Fúria se rende _____ vuvuzelas.
Caim é o último livro de José Saramago, que morreu_____ uma semana.
Sujeito _____ crises de humor, ele não vive em paz.

As vizinhas do andar de cima? Não _____vejo faz tempo.

a) às . há . às . as
b) as . há . as . às
c) às . a . as . às
d) às . a . às . as
e) as . há . às . as


GABARITO

1. A
2. A
3. E
4. E
5. A
6. D
7. C
8. B
9. D
10. A

Interpretação de texto



PREPARANDO-SE PARA O VESTIBULAR? LEIA E RESPONDA COM ATENÇÃO TODAS AS QUESTÕES

Texto para as questões 1 e 2 

Herói na contemporaneidade 

 Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis. 


Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga) e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman. 

Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan 
Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero dos quadrinhos. 

Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humana. 

Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão América. 

Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi. 

Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
                                                             CHUÍ, Fernando. Adaptado de http://fernandochui.blogspot.com 

1) (Uerj / 2009) A argumentação se estrutura por meio de diferentes mecanismos discursivos. No quarto parágrafo, o mecanismo empregado consiste na apresentação de: 

(A) opinião apoiada em exemplos 
(B) alegação partilhada por muitos 
(C) construção caracterizada como dialética 
(D) definição baseada em elementos válidos 

2) (Uerj / 2009) A utilização de testemunhos autorizados, como o de Fellini, é uma conhecida estratégia retórica. O uso dessa estratégia produz, no texto, o efeito de: 

(A) oposição entre estilos diversificados 
(B) exemplificação de opiniões variadas 
(C) delimitação de um contraponto temporal 
(D) confirmação dos posicionamentos do autor 


Texto para a questão 3 

O mundo para todos 

Durante debate recente, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. 

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade. 

Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. 

Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. 

Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. 

Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. 

Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. 

Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa. 
BUARQUE, Cristovam. O Globo, 23/10/2000. 

3) (Uerj / 2003) Cristovam Buarque, ao revelar os interesses ocultos na defesa da internacionalização da Amazônia, utiliza um recurso argumentativo conhecido como “redução ao absurdo”. Esse recurso consiste na aceitação inicial de uma proposição para dela extrair decorrências absurdas ou inaceitáveis. O trecho que melhor exemplifica o uso deste recurso, em relação à proposta de internacionalização, é: 

(A) “Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.” 
(B) “Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano.” 
(C) “Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.” 
(D) “Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA.” 

Texto para a questão 4 

A inteligência do herói estava muito perturbada. Acordou com os berros da bicharia lá em baixo nas ruas, disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de sagui-açu (...) não era saguim não, chamava elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons campainhas apitos buzinas e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas. Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés... Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina! O herói aprendendo calado. De vez em quando estremecia. Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando numa cisma assombrada. Tomou-o um respeito cheio de inveja por essa deusa de deveras forçuda, Tupã famanado que os filhos da mandioca chamavam de Máquina, mais cantadeira que a Mãe-d’água, em bulhas de sarapantar. 

Então resolveu ir brincar com a Máquina pra ser também imperador dos filhos da mandioca. Mas as três cunhãs deram muitas risadas e falaram que isso de deuses era gorda mentira antiga, que não tinha deus não e que com a máquina ninguém não brinca porque ela mata. A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos femininos de que o herói gostava tanto. Era feita pelos homens. Se mexia com eletricidade com fogo com água com vento com fumo, 
os homens aproveitando as forças da natureza. Porém jacaré acreditou? nem o herói! 

 (...) 

Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com a Máquina. A Máquina era que matava os homens porém os homens é que mandavam na Máquina... Constatou pasmo que os filhos da mandioca eram donos sem mistério e sem força da máquina sem mistério sem querer sem fastio, incapaz de explicar as infelicidades por si. Estava nostálgico assim. Até que uma noite, suspenso no terraço dum arranha céu com os manos, Macunaíma concluiu: 

 – Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles nesta luta. Há empate. 

 (...) 

ANDRADE, Mário de. Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. 

4) (Uerj/2009) Alguns vocábulos possuem a propriedade de retomar integralmente uma ideia já apresentada antes. Essa propriedade é observada no vocábulo grifado em: 

(A) “Acordou com os berros da bicharia lá em baixo” 
(B) “Tomou-o um respeito cheio de inveja” 
(C) “Então resolveu ir brincar com a Máquina” 
(D) “Estava nostálgico assim.” 

Texto para a questão 5 

As palavras e as coisas 

Guimarães Rosa, possivelmente o maior escritor brasileiro depois de Machado de Assis, dizia que seu sonho era escrever um dicionário. 

Ignoro se Rosa gostava de futebol (até onde eu sei, nunca escreveu nada a respeito), mas certamente ele se encantaria com a riqueza vocabular associada ao esporte mais popular do mundo. 

Poliglota, cultor dos neologismos formados a partir de diversos idiomas, o autor de “Sagarana” devia se deliciar com as palavras de origem inglesa aclimatadas ao português do Brasil por obra e graça do jogo da bola. 

É certo que alguns desses termos ingleses caíram em de suso. É o caso de “off-side” (substituído por “impedimento”), “hands” (“toque” ou “mão”), “centerforward” (“centroavante”) etc. 

Outros, entretanto, foram devidamente abrasileirados e incorporados de tal maneira ao nosso idioma que raramente lembramos de sua origem: “chute” (versão de “shoot”), “beque” (de “back”), “pênalti” (de “penalty”) etc., sem falar no próprio “futebol” (“football”). 

Há ainda as palavras inglesas que mantiveram uma vigência praticamente apenas regional, como “córner”, ainda muito usada no Rio de Janeiro, mas substituída no resto do país por “escanteio”, “tiro de canto” ou somente “canto”. 

Rosa, se acompanhasse o futebol, se deliciaria com a variedade de metáforas produzidas para dar conta do que acontece dentro das quatro linhas. 


Há, por exemplo, o recurso a uma infinidade de objetos cujo formato ou movimento lembra o de certas jogadas: carrinho, chapéu, bicicleta, janelinha (expressão gaúcha para bola entre as pernas), ponte. Mas o ramo mais bonito, do ponto de vista de um escritor, deve ser o das metáforas extraídas da natureza: meia-lua, frango, peixinho, folha seca. 

Ao criar uma jogada dessas – como Didi, que “inventou” a folha seca -, ou executá-la com perfeição, um craque faz poesia pura, rivalizando com Deus e nomeando as coisas como se estivesse no primeiro dia da Criação. 

Guimarães Rosa, infelizmente, não produziu seu sonhado dicionário. 

Nunca saberemos, portanto, se o homem que criou a saga fantástica de Riobaldo e Diadorim sabia o significado, dentro do campo de futebol, de uma chaleira, um lençol, um chaveirinho ou um corta-luz. (...) 

COUTO, José Geraldo, Folha de São Paulo, 17/07/02. 

5) (Cederj/2007) Um dos recursos de coesão textual é o uso de vocábulos sinônimos ou quase sinônimos, a fim de evitar a repetição literal de um termo. No texto, ao utilizar essa estratégia, o autor substituiu a palavra “futebol” por: 

(A) esporte; 
(B) jogo da bola; 
(C) quatro linhas; 
(D) campo de futebol; 
(E) jogada. 

Texto para a questão 6 

Qual será o futuro das cidades? 

As megacidades vão mudar de endereço no próximo milênio. 

Na periferia da globalização, as metrópoles subdesenvolvidas concentrarão não apenas população, mas também miséria. Crescendo num ritmo veloz, dificilmente conseguirão dar a tantas pessoas habitação, transportes e saneamento básico adequados. Mas não serão as únicas a enfrentar esses problemas. Mesmo metrópoles do topo da hierarquia global, como Nova York, já sofrem com congestionamentos, poluição e violência. Independentemente de tamanho ou localização, as cidades vão enfrentar ao menos um desafio comum: o aumento da tensão urbana provocado pela crescente desigualdade entre seus moradores. Não há mágica tecnológica à vista capaz de resolver as dificuldades. Os urbanistas apontam o planejamento como antídoto para o caos. Os governos precisam apostar em parcerias com a iniciativa privada e a sociedade civil. Será necessário coordenar ações locais e iniciativas conjuntas entre cidades de uma mesma região. 

Caderno Especial, Folha de São Paulo, p.1, 02/5/1999 

6) (UFF/2000) A coesão referencial pode ser realizada por meio de formas cujo lexema (radical) forneça instrução de sentido que represente uma interpretação de partes antecedentes do texto. 

Exemplo: Imagina-se que, no futuro, haverá aumento das tensões urbanas. Essa hipótese tem preocupado os cientistas sociais. 

Transcreva, do texto acima, apenas a expressão que, na coesão referencial, exerce papel semelhante à do trecho sublinhado no exemplo acima. 
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GABARITO COMENTADO

QUESTÃO 1 -  (A)

No quarto parágrafo, o autor defende sua opinião de que “toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social”. Para isso, usa exemplos de super-heróis que são excluídos sociais, como Homem aranha, Hulk, Batman e os X-men.

QUESTÃO 2 -  (D)

O argumento de autoridade, como o enunciado da questão afirma, é uma conhecida estratégia argumentativa. Ele dá credibilidade à tese defendida, ao fazer com que o texto se apoie em um testemunho de alguém com autoridade para emitir opiniões em uma determinada área do conhecimento. Ao trazer para o seu texto a afirmação de um cineasta sobre um criador de histórias em quadrinhos (“Stan Lee era o Homero dos quadrinhos”), o autor confirma aquilo que é também a sua opinião: “Os filmes de super-herói (...) realizam uma outra façanha (...): a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno”

QUESTÃO 3 - (D)

Ao longo de seu texto, Cristovam Buarque, utiliza diversas vezes a redução ao absurdo como estratégia argumentativa, quando afirma que deveriam internacionalizar, assim como querem fazer com a Amazônia, vários outros patrimônios, como as reservas de petróleo, o capital financeiro, os grandes museus do mundo, Nova York, os arsenais nucleares e as crianças pobres do planeta. Ao fazer isso, ele explica o motivo pelo qual deveríamos internacionalizar esses itens. Nas três primeiras alternativas o que temos são essas justificativas, a única que apresenta a redução ao absurdo é a D, em que primeiro há aceitação inicial de uma proposição (“Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia”) e, depois, a extração de decorrências absurdas ou inaceitáveis (“internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA”).

QUESTÃO 4 -  (D)

A nostalgia que toma conta de Macunaíma é expressa na constatação que o herói faz acerca do tipo de relação existente entre a máquina e os homens. O vocábulo "assim" faz referência a essa forma de expressar o estado nostálgico. (Fonte: Revista Eletrônica do Vestibular)

QUESTÃO 5 - (B)

Como todo o texto trata do assunto “futebol”, o autor substitui esta palavra por outras para evitar repetição. Ele faz isso no segundo parágrafo com a expressão “esporte mais popular do mundo” e no terceiro parágrafo com a expressão “jogo da bola”.

QUESTÃO 6 – Resposta: “...esses problemas...”
Comentário
Depois de tratar de alguns problemas enfrentados pelas metrópoles subdesenvolvidas, como a falta de habitação, transporte e saneamento básico, o autor afirma que “esses problemas” também serão enfrentados por grandes metrópoles, como Nova York. A expressão “esses problemas” cumpre a mesma função da expressão “essa hipótese”, ao retomar um elemento já citado antes.