terça-feira, 31 de janeiro de 2012

SITUAÇÃO DIDÁTICA DA AULA



TEMA: VARIAÇÃO LINGUÍSTICA

DINÂMICA DA AULA

1. Objetivos

  • Ensinar partindo da realidade social dos alunos, de suas vidas, do que eles sabem e gostam.
  • Refletir sobre sotaque, tom de voz, modo como utilizam as construções sintáticas, as referências e outras marcas.
  • Identificar as variedades lingüísticas que concorrem para a construção de sentido.
  • Utilizar a variedade padrão.
  • Observar e aplicar a variedade padrão nos mais diversos textos: notícia, reportagem, editorial, anúncio publicitário, crônica.

2. Material

  • Música.
  • Texto impresso sobre "Variação Lingüística" (abaixo: Assaltantes).
  • Rótulos, tirinhas, quadrinhos, gibis (Chico Bento/Cebolinha).
  • Tranparências/retroprojetor.

3. Sequência didática

  • Sensibilizar o grupo através de um movimento de fluidez dirigido ao som da música: olhos fechados, mover os dois braços paralelamente para frente e para o alto, para baixo e para trás de forma lenta e contínua, sem dobrar o tronco, mas flexionando ligeiramente os joelhos. Depois fazer o mesmo movimento com os braços alternados. Finalmente mover-se pela sala com leveza.
  • Solicitar aos participantes que formem uma roda, de pé, e que fechem os olhos. Neste momento, deverão prestar atenção apenas na voz do professor que fará a leitura do texto:

Assaltante Nordestino
Ei, bichim...
Isso é um assalto... Arriba os braços e num se bula nem se cague e nem faça
bagunça... Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim senão enfio o peixeira no teu bucho e boto teu pra fora!”
Perdão meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome de moléstia...

Assaltante Mineiro
Ô sô, prestenção... Isso é um assalto, uai...
Levanta os braços e fica quetin que esse trem na minha mão tá cheio de bala...
Mió passá logo os troado que eu num tô bão hoje.
Vai andando, uai! Tá esperando o que uai!!

Assaltante Gaúcho
Ô guri, ficas atento... Báh, isso é um assalto.
Levantas os braços e te quieta, tchê.
Não tentes nada e cuidado que esse facão corta uma barbaridade, tchê.
Passa as pilas prá cá! E te manda a la cria, senão o quarenta e quatro fala.

Assaltante Carioca
Seguiiinnte, bicho ... Tu te fudeu. Isso é um assalto...
Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de bobeira que eu atiro bem pra caralho
Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...

Assaltante Baiano
Ô meu rei... ( longa pausa)
Isso é um assalto... (longa pausa)
Levanta os braços, mas não se avexe não... (longa pausa)
Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado... Vai passando a grana, bem
devagarinho... (longa pausa)
Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado... Não esquenta,
meu irmãozinho, (longa pusa)
Vou deixar teus documentos na encruzilhada...

Assaltante Paulista
Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu... alevanta os braços, meu.
Passa a grana logo, meu...
Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Curintia, meu... Pô, se manda, meu...

Assaltante de Brasília
Querido povo brasileiro, estou aqui, no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: água, energia, esgoto, gás, passagem de ônibus, IPTU, IPVA, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, imposto de renda, IPI, ICMS, PIS, COFINS.
                                                             Texto retirado da internet – Autor desconhecido.

  • Explicar que a escrita deste texto expressa uma forma jocosa, caricatural do modo como as pessoas falam de acordo com as regiões.
  • Abrir o debate para as características da fala de grupos sociais, não só geográficas ou regionais, mas também ligadas às profissões, à idade e as outras, lembrando também que a forma de falar de certa forma apresenta a pessoa.
  • Abordar o conceito de adequado e inadequado e inadequado e o preconceito entre o certo e o errado.
  • Explicar aos alunos que as falas deles e a de todos expressam a vida que vivem, o que sabem, seus valores, sentimentos e desejos.
  • Explicar-lhes que dependendo do espaço onde é produzida a nossa fala, isto é, do conhecimento do cotidiano, das diversas situações e pessoas, da História, da Religião, da Literatura, do contexto social, econômico e cultural, vamos lendo a realidade de diversos modos.
  • Apresentar textos para que seja observada a linguagem utilizada em diferentes situações (formal/informal).

4. Transparências
O professor pode organizar transparência ou slides para complentar o assunto.
5. Atividades (Vivência)

  • Fazer uma "chuva de idéias" em torno das palavras de uso adequado e inadequado da linguagem. Os grupos devem registrar em painéis as expressões, sintetizar e organizar conceitos.
  • Refletir sobre os fatores políticos, sociais e culturais que estimulam o inibem a variação lingüística.
  • Reconhecer a manifestação de preconceitos lingüísticos como estratégia de  dominação. Refletir sobre a atitude crítica e não preconceituosa em relação às variedades lingüísticas e estilísticas.
  • Avaliar o uso das variedades lingüísticas e estilísticas em um texto, considerando a situação comunicativa e o gênero textual.
  • Provocar o grupo a pensar como se forma, em nossa mente, as representações e os significados.
  • Comentar as várias formas de falar das pessoas.
  • Utilizar anúncios publicitários de revistas, para reconhecimento do uso da linguagem e a forma como a fala é usada.
  • Abrir espaços para os participantes fazerem a leitura crítica dos anúncios e demonstrarem as estratégias usadas pelos anunciantes e a exploração da linguagem.
  • Estabelecer diferenças entre o texto: Variação Linguística e os anúncios publicitários.
  • Abordar o prestígio e o preconceito liguístico.

6. Avaliação

  • Conclusões apresentadas em plenário por um representante do grupo.
  • Perguntas polêmicas para as quais o grupo não tenha respostas prontas.
  • Observação.

7. Leitura

     Estimular a leitura:
     BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico.
     ______________. A língua de Eulália.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Tragédias do RJ

Rio de Janeiro

Cidade maravilhosa
Por que não dizer famosa
Por todo o seu esplendor
Destacando-se lá no topo
       [a estátua do redentor.

Hoje aquela nação
Sofre dor no coração
Vendo a cada dia
Morrer a sua alegria.

O clima de violência
Compromete a paciência
Maltrata o cidadão
No complexo do Alemão.

Quem não lembra o ato brutal
Numa escola, sem igual
A Escola de Realengo
Vítima de quem não é sengo.

Não se pode andar na rua
É realidade nua
De repente explosão
Medo na população.

Se chove que Deus acuda
Porque ali nada muda
Surgem os deslizamentos
Nos corações, dores e lamentos.

De repente um edifício
Com mais dois no precipício
Mais vidas sendo ceifadas
Famílias desenganadas.

A este povo sofrido
Um abraço bem amigo
Que lhe sirva de conforto
Melhor que discurso torto.

O povo deve pensar
E nunca desanimar
Dar basta na corrupção
Que segrega a nação

Brasil de 2014!!!
Estamos em 2012
Será que o povo sabe
O direito que lhes cabe???

      Manoel Joaquim da Silva
      28/01/2012




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Currículo e Programas Escolares

DISCIPLINA: CURRÍCULO E PROGRAMAS
CURSO: PEDAGOGIA

A Formação do Currículo Escolar nas Séries Iniciais

I  Currículo Escolar

1.1 Breve Retrospectiva Histórica
A tradição escolar sempre apresentou as teorias do currículo como algo isolado e estanque, algo desprovido de significações mais profundas que pudessem contribuir para o desenvolvimento das capacidades intelectuais e cognitivas de cada aluno em particular. O currículo escolar era simplesmente considerado como uma seriação de conteúdos escolares em que cada unidade curricular (disciplina) era estruturada e detalhada de acordo com as exigências e normas da instituição de ensino. O currículo caracterizava-se pelo modo próprio de ser de cada escola, pelo bom funcionamento de suas atividades e pela forma padronizada de se trabalhar com a educação e com seus pacientes mais imediatos: os alunos. Dessa forma, se a estrutura planejada no início do ano, a que foi estabelecida no projeto político pedagógico de cada escola, estivesse sendo rigorosamente obedecida, significava que o plano curricular estava sendo bem formado e coerentemente respeitado em suas determinações.
1.2  Moderna Concepção de Currículo Escolar
Mais modernamente têm-se as novas teorias de currículo escolar que se nos apresentam como um recurso, não de resistência, mas de acréscimo àquelas já existentes e que buscam dar conta de um universo educacional mais extenso, mais amplo. O currículo escolar atual não é, portanto, o mesmo proposto pela tradição escolar e conservado de igual maneira por todas as escolas. Pode-se mesmo dizer que, na era da tecnologia, o currículo escolar se forma a partir das necessidades de cada escola e de cada aluno.
Neste sentido, o currículo escolar passa a ser definido como sendo todas as situações vividas pelo aluno dentro e fora da escola, seu cotidiano, suas relações sociais, as experiências de vida acumuladas por esse aluno ao longo de sua existência, as quais contribuem para a formação de uma perspectiva construcionista educacional. É importante dizer que, para a formação do currículo escolar individual de cada aluno, a organização da vida particular de cada um constitui-se no principal instrumento de trabalho para que o professor possa explorar no desenvolvimento de suas atividades. Logo, o que se quer dizer é que a escola deve buscar na experiência cotidiana do aluno elementos que subsidiem a sua ação pedagógica e, ao mesmo tempo, recursos que contribuam para a formação do currículo escolar dos educandos.
A escola não pode esquecer que quando os alunos chegam, eles já possuem uma história de vida, recebem freqüentemente influências fora da escola, apresentam um comportamento individual, social e uma vivência sociocultural específicos ao ambiente de origem de cada um deles. Todas essas características individuais dos alunos integram elementos básicos que auxiliam na formação do currículo escolar. É isso o que nos dizem MOREIRA e SILVA:
"[...] a cultura popular representa não só um contraditório terreno de luta, mas também um importante espaço pedagógico onde são levantadas relevantes questões sobre os elementos que organizam a base da subjetividade e da experiência do aluno." (MOREIRA e SILVA, 2002:96)
Falar em currículo escolar é falar também na vida do aluno e da escola em constante e em dinâmica ação, ou seja, educandos e educadores, no espaço escolar, constroem e formam, através de processos de valorização e do cotidiano que vivenciam, o currículo ideal para o desenvolvimento de habilidades necessárias ao desempenho educacional dos alunos. Todas as atividades de cunho educativo que venham a ser exploradas pela escola constituem elementos essenciais e de mesma importância na formação do currículo escolar, o qual interfere de maneira significativa na formação do caráter e da personalidade dos alunos. Considerando que a personalidade humana se caracteriza pelo modo próprio de ser apresentado por cada indivíduo, acredita-se na força de sua expressão como fator operante nas teorias do currículo.
Sendo a personalidade uma das características humanas formadas com a contribuição da escola, pode-se afirmar que o currículo escolar constitui-se, então, em uma construção social que auxilia na formação e no desenvolvimento do comportamento humano. Por sua vez, sendo o currículo uma construção social ele é, também, construção cultural, pois toda prática educativa que se assimila, tende-se a repassá-la às futuras gerações, perpetuando-se, assim, a cultura como marca da presença do homem em sociedade. Indo um pouco mais além, pode-se considerar o currículo escolar como a seleção e a organização do conhecimento educacional uma vez que, como já dito anteriormente, todas as atividades, sejam elas escolares ou não, que tenham por finalidade a aprendizagem de uma conduta educativa, contribuem satisfatoriamente para a formação desse tipo de currículo.
O currículo escolar, além dos aspectos já mencionados, também pode ser entendido como um processo de socialização das crianças com o objetivo de enquadrá-las ou ajustá-las às estruturas da sociedade. Neste sentido, acredita-se que as relações sociais, as trocas de experiência, o cotidiano, formam um conjunto de fatores que garantem a formação de um currículo escolar que busca integrar a vida escolar à vida social. Em contrapartida tem-se que a perfeita observação de todos esses elementos direciona à verdadeira práxis do currículo, ou seja, a articulação entre a teoria e a prática curriculares em sala de aula. Construir o currículo na sala de aula requer profissionalismo e competência por parte dos professores quanto à utilização de uma importante ferramenta pedagógica: a vivência sociocultural das crianças.
1.3 O Papel dos Educadores e da Escola: a compartimentalização do currículo
Os profissionais da educação devem buscar a valorização do conhecimento do senso comum, trazido pelas crianças quando chegam à escola, como base para atingir o conhecimento formal ou crítico. Dessa forma, se perceberá que a teoria presente no planejamento curricular da escola (os conteúdos acadêmicos) estará em harmonia com o conhecimento do senso comum trazido com as crianças (a prática da realidade da vida). A escola deve encontrar na cultura popular um vasto campo de atuação pedagógica que colabora para a formação da subjetividade dos alunos, subjetividade esta organizada a partir da experiência de vida dos próprios alunos. Como é de se notar, uma vez juntas, teoria e prática curriculares formam a base da educação que se contextualiza com a aproximação à vida dos alunos. Vejam-se as considerações de ARROYO quando fala das relações sociais na escola e a formação do trabalhador:
"A preocupação com o cotidiano, com os rituais, com as relações sociais que se dão nos processos escolares, na produção do conhecimento e socialização, tem aumentado entre os educadores e pesquisadores. Que papel cumprem as relações sociais na escola na formação do trabalhador e dos educandos em geral? A escola está cada vez mais próxima de nossas preocupações. Aproximando-nos da escola descobrimos seus currículos, sua organização e também as relações sociais em que se dá a prática educativa." (ARROYO, 1999:13)
O currículo formado pela instituição escolar constitui-se, assim, em uma questão de identidade sociocultural em que o ambiente de aprendizagem, seja ele escolar ou extra-escolar, é determinante na formação do caráter aliado à personalidade das crianças que se encontram em fase de desenvolvimento físico, intelectual, social, emocional, crítico.
De acordo com observações e pesquisas realizadas na área de estudo do currículo, achou-se por bem compartimentalizá-lo em duas grandes divisões: a primeira é a que se denomina de Currículo Formal, o que leva em consideração somente os aspectos estruturais do currículo, como a divisão das disciplinas, a carga horária dos professores, as normas relativas à instituição de educação ou as atribuições dos cargos técnicos exercidos por cada funcionário da escola; a segunda é a que se prefere chamar de Currículo em construção, aquele que aproveita a experiência prévia de vida dos alunos e transforma-a em objeto de manipulação para a produção do conhecimento.
Para finalizar estas primeiras reflexões sobre a formação do currículo escolar, têm-se as considerações de SILVA quando trata da definição do currículo:
"O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forma nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade." (SILVA, 2003:150)
1.4  O Currículo Oculto
Uma vez entendido o conceito de currículo escolar, investigar-se-á, agora, o lado oculto do currículo, o lado que não nos interessa, mas que, infelizmente, está presente no cotidiano da prática escolar. Acredita-se que a expressão Currículo Ocultotenha sido utilizada pela primeira vez por Philip Jackson, em 1968, em um livro intitulado Life in classrooms. Na tentativa de se compreender satisfatoriamente a significação do currículo oculto, têm-se as palavras de SILVA que afirma:
"O currículo oculto é constituído por todos aqueles aspectos que, sem fazer parte do currículo oficial, explícito, contribuem, de forma explícita, para aprendizagens sociais relevantes." (SILVA, 2003:78)
No entanto, não nos deixemos enganar por este belo conceito que poderia ser suficiente à compreensão do fenômeno em estudo. O que, na verdade, o autor quer dizer é o seguinte: todas as atitudes, os comportamentos e os valores que permeiam a vida dos alunos como forma de enquadrá-los às estruturas da sociedade capitalista e que são transmitidas no ambiente escolar, contribuem para a formação do currículo oculto e, de certa forma, consideram-se aprendizagens sociais relevantes, porém não para os alunos, mas para a minoria da sociedade que detém o poder político-educacional e que exige que sua cultura seja transmitida nas escolas na tentativa da legitimação de seu poder opressivo. Neste sentido, o currículo oculto surge como forma de consolidação das classes economicamente privilegiadas da sociedade.
Assim, o currículo oculto transforma a escola em um espaço de transmissão da doutrina capitalista, a qual, segundo SILVA (2003) produz e legitima os interesses econômicos e políticos das elites empresariais. O que ocorre é que a escola, de modo particular a sala de aula, passa a ser um local exclusivo do reprodutivismo dos valores, das atitudes e dos comportamentos da classe privilegiada. Estes elementos acabam sendo impostos nos currículos escolares, mas não são parte integrante da vida e do cotidiano de muitas crianças, as quais são preparadas para a absorção de uma cultura que não as satisfaz e que, portanto, nada tem a contribuir em sua formação.
Nota-se, contudo, que o currículo oculto reproduz, através da cultura escolar, as estruturas sociais e a ideologia dominante do capitalismo. Com isso, o currículo oculto interfere na subjetividade dos alunos, os quais passam a ser inibidos e impedidos de manifestarem-se quanto à própria atuação no mundo.
Um exemplo da presença do currículo oculto nas salas de aula é a própria forma de organização da classe. Geralmente as carteiras são dispostas em filas indianas em que cada aluno tem sua atenção voltada sempre para frente com o fim único de interromper toda e qualquer forma de comunicação com os outros alunos. Esse exemplo é reflexo de uma grande relação de poder em que o professor ocupa a posição central da sala e é detentor do conhecimento produzido e acabado. Os alunos são considerados como sujeitos pacientes desse tipo de organização educacional e, no geral, são simples reprodutores do conhecimento recebido. Veja-se, mais uma vez, o que diz SILVA com relação aos propósitos do currículo oculto:
"Para a perspectiva crítica, o que se aprende no currículo oculto são fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações que permitem que crianças e jovens se ajustem da forma mais conveniente às estruturas e às pautas de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas e, portanto, indesejáveis, da sociedade capitalista. Entre outras coisas o currículo oculto ensina, em geral, o conformismo [...] Numa perspectiva mais ampla, aprendem-se através do currículo oculto, atitudes e valores próprios de outras esferas sociais, como, por exemplo, àqueles ligados à nacionalidade." (SILVA, 2003:78-79)
II  A Questão do Currículo Escolar nos Documentos Oficiais
"A questão do múltiplo, do plural, do diverso, bem como das discriminações a ela associados, passam a exigir respostas, no caso da educação, que preparem futuras gerações para lidar com sociedades cada vez mais plurais e desiguais. Cobra-se da educação e, mais especificamente do currículo, grande parte daquelas que são percebidas como medidas para a formação de cidadãos abertos, tolerantes e democráticos." (CANEN, 2002:175-176)
Discutir a formação do currículo escolar nos documentos oficiais significa fazer uma reflexão acerca da forma como este tema tem sido tratado de acordo com sua significativa importância para o processo sócio-educacional. Ou seja, o que se propõe é uma análise crítica que investigue de que maneira a formação do currículo escolar é referenciada nos documentos legais do país, os quais servem como base para um bom desenvolvimento da educação brasileira. Neste trabalho, serão três os documentos legais analisados: a Constituição Federal Brasileira de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCN).
2.1  Da Constituição Federal Brasileira
A Constituição Federal Brasileira é o documento que regulamenta e dirige a vida de nosso país. Sendo assim, constitui-se em um conjunto de normas jurídico-constitucionais elaboradas com o objetivo de garantir os direitos e deveres dos cidadãos brasileiros. Dessa forma, sendo a educação uma instância social, tem-se que, segundo o título II, capítulo II, artigo 6º da Constituição, a educação fundamenta-se em um direito social assegurado por lei. De acordo com a Constituição em seu título VIII, capítulo III, seção I, artigo 205, em que trata da educação, lê-se o seguinte:
"A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho." (CFB.: 119)
No que se refere à formação do currículo escolar, pode-se afirmar que a Constituição é pertinente apenas em parte em relação à forma como trata o tema. Perceba-se que a educação é direito constitucional de todos, além de ser responsabilidade do Estado e da família. Neste sentido, ela deve ser incentivada com a colaboração da sociedade com vistas ao pleno desenvolvimento da pessoa, preparando-a para o exercício da cidadania e para sua qualificação profissional. Neste ponto, a Constituição é simples e direta: a educação possui como finalidade a garantia de cidadania e a preparação para o mercado de trabalho.
Desse modo, acredita-se que a Constituição, no referido artigo, não faz referência direta às experiências de vida dos alunos como instrumento pedagógico que colabore em sua formação, mas que sinaliza para tal questão quando diz que a educação deve ser incentivada pela sociedade. Em outras palavras, equivaleria a dizer que as relações sociais mantidas pelas crianças, antes de entrar na escola, podem servir como recursos para uma aprendizagem mais favorável à produção de conhecimentos desejáveis.
Passando ao artigo 206, em seu inciso III, lê-se que o ensino deve ser ministrado com base em princípios, dentre os quais o princípio do pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas. Sabe-se que a história de vida de cada criança é particular graças a fatores sociais como a situação socioeconômica. Logo, o cotidiano de uma criança proveniente de classes socioeconomicamente desprestigiadas e, portanto, sua realidade social, é diferente do cotidiano e da realidade de crianças oriundas de classes socioeconomicamente prestigiadas. Esse fato foi observado pela Constituição quando concebe que o pluralismo de idéias, ou seja, os vários contextos sociais nos quais as crianças encontram-se envolvidas devem ser respeitados e levados em consideração pela instituição escolar no momento em que se torna um meio pelo qual o conhecimento deverá ser produzido pelas crianças.
Para facilitar a produção do conhecimento pelas crianças, a Constituição também defende o pluralismo de concepções pedagógicas, as quais devem ser satisfatoriamente manipuladas como recursos pedagógicos facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. Assim, nota-se que o pluralismo de idéias é algo que se encontra relacionado às experiências individuais de cada criança acumuladas antes mesmo de entrar na escola e que se constitui em um importante recurso pedagógico de ensino e em um significativo elemento de formação da identidade cultural e social das crianças.

2.2   Da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB)
A LDB é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabelece, por assim dizer, as diretrizes e as bases da educação brasileira. Sancionada a partir da lei 9394/96, a LDB, em seu título I, artigo 1º, assim define a educação:
"A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais." (LDB, 1968:01)
Levando em consideração a definição de currículo escolar com sendo as experiências sociais acumuladas pelas crianças ao longo de sua existência, acredita-se que a LDB, mesmo implicitamente, pois não cita a expressão currículo escolar, contempla nossas expectativas em relação ao assunto em curso. De acordo com a lei, os processos de formação desenvolvidos no ambiente familiar, bem como na convivência diária com as pessoas a partir de suas manifestações culturais (quaisquer que sejam elas), e em outros segmentos da sociedade civil, são abrangências da educação, logo componentes integrantes do currículo escolar a ser desenvolvido nas instituições de ensino.
É importante a garantia que a lei assegura de desenvolvimento da educação a partir, inclusive, das manifestações culturais de cada povo. Na verdade, o que a LDB quer dizer é que a cultura se constitui em mais um relevante recurso pedagógico que auxilia no desenvolvimento das atividades de cunho educativo. Sendo assim, pode-se afirmar que as crianças das séries iniciais, antes mesmo de entrar na escola, já possuem uma vivência sociocultural que agrega em si múltiplos saberes de uma comunidade detentora de uma identidade característica e reveladora do padrão de vida das crianças que de lá são parte integrante. A tarefa do educador, neste caso, seria o da manipulação (pedagógica) adequada da vivência cultural das crianças.
Por outro lado, a LDB, em seu título II, quando estabelece os princípios e os fins da educação nacional, esclarece, no artigo 3º, a forma como o ensino deve ser ministrado levando em consideração vários itens, dentre os quais o da valorização da experiência extra-escolar. Neste ponto do documento o que se pode notar é o discurso explícito da lei em favor da formação de um currículo escolar pautado no cotidiano extra-classe no espaço sociocultural, portanto como um componente curricular fundamental à educação. Observe-se como esta particularidade da lei está em consonância com o artigo 26, do capítulo II, seção I, da LDB:
"Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela." ()
Nesta passagem da Lei de Diretrizes e Bases fica latente, mais do que nunca, a preocupação e a valorização das atividades extra-escolares como componentes necessários para a composição de um bom currículo escolar. A LDB chama de parte diversificadaos conteúdos específicos e inerentes às regiões brasileiras, à economia e à clientela que entrará em contato com tais conteúdos. Desse modo, o que se conclui é que a LDB, ao menos na teoria e no papel, manifesta-se a favor de uma educação que respeite e valide os saberes populares como parte integrante de conteúdos significativos para a formação do currículo escolar das crianças das séries iniciais.
2.3  Do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil é uma proposta pedagógica elaborada pelo Ministério da Educação e do Desporto e em parceria com a Secretaria de Educação Fundamental, dividida em uma coleção de três volumes, que possui como objetivo a melhoria da qualidade da educação no Brasil.
No que tange às questões do currículo escolar, o referido documento, se comparado aos anteriores, é o que melhor contempla nossas expectativas com relação à valorização e ao respeito à cultura de um determinado grupo de origem, porém sem deixar de levar em consideração a cultura de outros grupos sociais. No primeiro volume da coleção (Introdução), lê-se o seguinte sobre a diversidade e a individualidade:
"Cabe ao professor a tarefa de individualizar as situações de aprendizagens oferecidas às crianças, considerando as suas capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas assim como os conhecimentos que possuem dos mais diferentes assuntos e suas origens socioculturais diferentes." (RCN, 1998:32)
Como se percebe, o RCN, mesmo sem fazer referência direta à expressão currículo escolar, sugere que nas atividades escolares as questões de individualidade sejam consideradas com objetivos específicos, dentre os quais a promoção das capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças, o que, em outras palavras, significa a mesma coisa que formação do currículo escolar das crianças das séries iniciais voltado a aspectos da diversidade cultural presentes na escola.
Ao educador, de acordo com o RCN, cabe a tarefa de individualizar todas as situações de ensino-aprendizagem vivenciadas pelas crianças. Neste sentido, seu papel é de fundamental importância na construção da identidade sociocultural dos alunos que cursam as séries iniciais. Deve-se lembrar que as capacidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianças são distintas. Por isso, ao educador é atribuída a responsabilidade de reconhecer tais capacidades como variáveis de aluno para aluno, o que implica em dizer que o desenvolvimento educacional, e, portanto, a trajetória de vida de cada criança, é diferente. Além disso, os conhecimentos que os alunos possuem dos mais diferentes assuntos, bem como suas origens socioculturais diversas são indicadores da diversidade e da individualidade como elementos constituintes do currículo escolar daqueles que cursam as séries iniciais.
Nesta perspectiva de raciocínio, tem-se a criança como um ser único, dotado de individualidade e pertencente a uma comunidade que possui características particulares a seu meio de cultura. Assim, o Referencial Curricular para a Educação Infantil (Introdução), afirma que:
"Considerar que as crianças são diferentes entre si, implica propiciar uma educação baseada em condições de aprendizagem que respeitem suas necessidades e ritmos individuais, visando a ampliar e a enriquecer as capacidades de cada criança, considerando-as como pessoas singulares e com características próprias." (RCN, 1998:32 e 33)
Esta citação apenas confirma o que se disse nas linhas anteriores e chama a atenção para a questão do ritmo individual de aprendizagem de cada criança. Dessa forma, individualizar as situações de aprendizagem torna-se fundamental para o trabalho com crianças das séries iniciais.
A instituição escolar é o espaço por excelência onde ocorrem, ou pelo menos devem ocorrer, aprendizagens significativas que favoreçam o pleno desenvolvimento humano de todos aqueles que por ela passam ao longo do período de amadurecimento tanto intelectual quanto social. Para que isso realmente aconteça, o ambiente escolar deve ser acolhedor das diferentes culturas, valores e crenças da educação de crianças. A esse propósito veja-se o que dizem os RCN (Formação pessoal e social, volume 2):
"Assumir um trabalho de acolhimento às diferentes expressões e manifestações das crianças e suas famílias significa valorizar e respeitar a diversidade, não implicando a adesão incondicional aos valores do outro. Cada família e suas crianças são portadoras de um vasto repertório que se constitui em material rico e farto para o exercício do diálogo, aprendizagem com a diferença, a não discriminação e as atitudes preconceituosas." (RCN, 1998: )
É enfática a afirmação dos RCN de que não só a criança, mas também sua família é possuidora de um vasto repertório de atividades sociais que contribuem significativamente para a formação do currículo não só escolar como também social das crianças da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental.
É importante notar que o documento fala em acolhimento das diferentes expressões e manifestações das crianças e suas famílias, o que significa acolher as experiências prévias de cada uma delas levando em consideração o contexto em que foram produzidas. Assim, fica mais fácil trabalhar aspectos da atividade pedagógica a partir de elementos do cotidiano das crianças que favoreçam cada uma daquelas capacidades humanas já descritas anteriormente. De um modo geral, acredita-se que o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil constitua-se em um documento que de fato valoriza os conhecimentos prévios dos alunos para uma verdadeira formação do currículo escolar de cada um deles.

Currículos e Programas Educacionais VIDEO AULA 1

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quanto vale o progresso?

          Segundo o Aurélio, Dicionário da Língua Portuguesa, progresso (sm) vem do latim progressu e significa ato ou efeito de progredir, progressão; marcha para frente; conjunto das mudanças havidas no curso do tempo. Define também progressão (sf) do latim progressione como sucessão ininterrupta e gradual e que corresponde  ao desenvolvimento de algo.
          É partindo destas definições que devemos fazer algumas reflexões.
          O progresso é necessário. Sem ele o que aconteceria no mundo? Como acompanharíamos o desenvolvimento de um país ou até mesmo de uma nação? Vamos pensar um pouco na natureza, fonte de vida e riqueza e que sofre diversas conseqüências não sei se por acaso ou por conta de um progresso desenfreado e sem planejamento. Sei que sofre, e juntos a ela nós vamos aos poucos nos tornando "pó".  
           No mundo tenho observado os danos causados ao ambiente, este já perdeu o seu curso natural há tempos. O que mais escutamos hoje em dia é "preservar o meio ambiente". Preservar o quê? Na verdade seria impossível preservar quando os recursos naturais precisam ser explorados mesmo para beneficiar a todos mas de forma adequada. O ideal é conservar e para conservar é preciso raciocinar. Distinguir os conceitos de preservar e conservar é compreender de fato o que é a natureza e o que ela significa para todos.
            Tenho direcionado o olhar para o nosso estado - Pernambuco - que se prepara para sediar a copa do mundo em 2014. É o progresso...
            Ontem (13/01/2012) estive na capital, Recife, e fiz uma rápida observação. Os trabalhos de duplicação da pista que liga a capital até a cidade de Carpina estão bem acelerados. Em São Lourenço da Mata uma grande área já foi devastada para a construção da "Cidade da Copa". No percurso podemos observar quantas árvores já tiveram suas vidas ceifadas pelas forças potentes de máquinas fabricadas e comandadas pelos homens. A duplicação tem seu valor para o nosso estado e para o Brasil, a copa também será sem dúvidas importante. É o lado bom do progresso...
            Por outro lado, como fica a vida no planeta? È aí que está o "x" da questão. Onde será feito o reflorestamento para compensar as perdas? Será que os órgãos estaduais já estão pensando nisto? Como equilibrar um ecossistema para conservar o ambiente sem provocar-lhe maiores danos? Onde está a legislação ambiental do Estado?
            É preciso saber como alavancar o progresso de forma planejada para não se acentuarem ainda mais os problemas ambientais. É preciso aprender a conservar.
            Pensemos no que diz Roberto Carlos "Eu não sou contra ao progresso mas apelo pro bom senso, um erro não conserta o outro isto é o que eu penso". Daí podemos concluir o que é progresso/progressão, um processo gradual que deve ser ordenado de tal forma a beneficiar e não contribuir apenas para a riqueza dos homens que não será nada se não houver sustentabilidade em benefício do planeta Terra.

Manoel Joaquim da Silva - professor
em 14/01/2012
            


sábado, 7 de janeiro de 2012

ENEM

VERGONHA NACIONAL

O Enem tornou-se uma banalização, parece-me ter perdido de uma vez por todas o pouquinho da credibilidade que ainda lhe restava. Alunos injustiçados com as notas das redações recorrem à justiça tentando fazer valer o direito a uma revisão, assim como fez o estudante Michael Cerqueira que serviu de exemplo para que outros estudantes, por direito, pudessem tomar a mesma atitude dele. Muito tem se discutido  sobre cidadania e protagonismo juvenil no meio escolar e isto tem feito com que os alunos possam reivindicar seus direitos. Eis aí um exemplo a ser seguido.
Li muitos rascunhos dos meus alunos e eles comentaram sobre as pequenas alterações que fizeram no "passar a limpo", alterações estas que de acordo com suas falas avaliei-as como positivas e que garantiam ainda mais a boa qualidade dos textos. Não entendo o motivo pelo qual as notas não se aproximaram das esperadas.
Será que a equipe (MEC/INEP) responsável pela correção das redações se considera única e "detentora" do saber? Será que nós somos incapazes de analisar o que os nossos alunos escrevem se estamos próximos todos os dias no decorrer da trajetória deles? Quem não os conhecem de perto compreendem bem como eles se destacam na escola? Precisam refletir um pouco mais sobre as correções feitas. O ser humano não é um mero objeto, merece respeito.
Para que temos de repassar aos alunos habilidades e competências para uma prova do Enem? Será que vale fazer todo um trabalho onde os direitos deles não são respeitados. Sei que as redações podem ser classificadas em grupos: boas, médias ou fracas o que não entendo é como são feitas as correções. Fica o subtendido, afinal fraudes e corrupções no Brasil, e por anos seguidos no Enem, não são mais nenhuma novidade. CONCORDAM???
Em 2010 postei no meu blog o texto "Mais respeito com os estudantes" e pensei que não escreveria mais sobre este assunto, mas infelizmente em 2011 o Enem mais uma vez falhou provando que o quesito incompetência tornou-se uma coisa normal e aqui estou novamente reforçando que nossos estudantes merecem respeito. Não podem ter seus textos marcados por pessoas sem compromisso ou pela velha desculpa de que o tempo é curto, tudo é muito rápido, tem que se corrigir tantas redações por dia para prestar conta do serviço, ou se faz sob pressão. PALHAÇADA!!! O corre-corre, para quem não conhece, deve-se ao fato de que quanto mais se corrige mais dinheiro se recebe por cada texto corrigido. EXPLICADO??? Daí o descaso que contribui para a falta de honestidade no país. "Educar pelo exemplo" não é apenas uma tarefa da escola e de professores mas de todos aqueles que tanto falam em moralidade e acabam sendo os maiores contribuintes da irresponsabilidade e impunidade brasileira.
Professor: Manoel Joaquim da Silva