DICAS DE PORTUGUÊS
POR: Sérgio Nogueira
1ª) Alerta OU alertas?
Leitor quer saber se “eles
precisam ficar mais alerta OU alertas”.
O correto é “eles precisam ficar mais alerta”.
Nessa frase, ALERTA é
advérbio, por isso não se flexiona (gênero e número).
ALERTA vai para o plural quando funciona como
adjetivo: “pessoas alertas”, “soldados alertas”.
ALERTA pode ser também um
substantivo masculino (= sinal, ordem, aviso para estar vigilante): “Deu vários
alertas”.
2ª) Patriota OU
patriótico?
Leitor quer saber qual a forma
correta: “Precisamos de dois voluntários patrióticos OU patriotas”. O mais
adequado é “voluntários patriotas”.
A princípio, patriota e
patriótico podem ser dois adjetivos sinônimos. Na prática, a diferença é que
usamos PATRIOTA para “quem ama a pátria” e patriótico para tudo aquilo que é
“relativo à pátria”: “voluntários patriotas”, “cidadão patriota”; “sentimentos
patrióticos”, “ato patriótico”.
3ª) Super-terça OU
superterça?
Com ou sem hífen?
Com os prefixos INTER, HIPER e
SUPER, só usamos hífen se a palavra seguinte começar por “H” ou “R”:
inter-regional, inter-racial, hiper-humano, hiper-resistente, super-herói,
super-homem, super-reação, super-requintado…
Assim sendo, devemos escrever
SUPERTERÇA sem hífen, “tudo junto” como se diz popularmente. Esta regra não
será alterada com a nova reforma ortográfica.
4ª) Infartar OU enfartar?
Tanto faz. Nossos principais
dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela
Academia Brasileira de Letras, registram as duas formas.
Para o substantivo, há
registro de quatro formas: infarte, infarto, enfarte e enfarto.
5ª) Migrar OU emigrar OU
imigrar?
Leitor quer saber qual é a
forma correta.
A melhor resposta é “depende do caso”.
EMIGRAR é “sair de um país
para viver em outro”: “Todo ano muitos brasileiros emigram para os Estados
Unidos”. O prefixo “e(x)-“ significa “movimento para fora”: emergir, exportar,
externar, expulsar;
IMIGRAR é “entrar,
estabelecer-se em país estrangeiro”: “Muitos japoneses imigraram para São
Paulo”. O prefixo “i(n)-“ significa “movimento para dentro”: imergir, importar,
internar, ingerir.
MIGRAR é “mudar de lugar,
região, país…” Isso significa que podemos usar o verbo MIGRAR como sinônimo de
EMIGRAR e IMIGRAR. Quando não houver a idéia de “entrada ou saída”, só a de
“movimento, mudança”, o mais adequado é usar o verbo MIGRAR: “Durante o inverno
muitas aves migram para o hemisfério sul”.
6ª) Zoar OU divertir?
Leitor quer saber se são
palavras sinônimas.
Vejamos o que dizem os dicionários:
a) ZOAR = “fazer grande ruído,
emitir ou produzir som forte e confuso”. No Brasil, no uso informal, é usado
com o sentido de “fazer troça de, rir de alguém ou fazer-lhe uma brincadeira,
por divertimento; caçoar, gozar”.
b) DIVERTIR ou DIVERTIR-SE =
“entreter(-se) com brincadeiras, distrair(-se); rir ou fazer rir;
alegrar(-se)”.
Em razão disso, chegamos à
conclusão de que não são palavras sinônimas. Dizer que “os alunos estão se
divertindo com os colegas” não significa que estejam “zoando dos colegas”.
7ª) Oxímoro OU oximoro?
Leitor quer saber a correta
pronúncia: proparoxítona (com acento agudo no “i”) ou paroxítona (sem acento
gráfico).
A pronúncia oficial
recomendada pelos dicionários é a de paroxítona e com timbre aberto na sílaba
tônica (/mó/). Em razão disso, devemos escrever sem acento gráfico: oximoro.
Oximoro é palavra de origem
grega. É uma “figura em que se combinam palavras de sentido oposto que parecem
excluir-se mutuamente, mas que, no contexto, reforçam a expressão: obscura
claridade, música silenciosa”.
Teste
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases
abaixo:
1) Ele foi dar ___ telefonema.
2) Ele quer saber se aboliram ___ trema.
3) Ela deu ____ tapas na criança.
(a) uma, a, umas;
(b) um, o, uns;
(c) um, a, uns;
(d) uma, o, umas;
(e) um, a, umas.
Resposta do teste:
letra (b). Telefonema, trema e
tapa, embora terminem em “a”, são substantivos masculinos: um telefonema, o trema
e uns tapas.
Verbo TAR
Há muito tempo que, na língua
oral, algumas formas verbais do verbo ESTAR perderam a sílaba inicial: eu tô
(estou), ele tá (está), tamos (estamos), tão (estão), tava (estava), tive
(estive), tiver (estiver)…
Não discuto se está certo ou
errado. Faço apenas a constatação de um fato inegável: a forma reduzida é uma marca característica da
língua coloquial do português falado no Brasil.
É interessante fazermos
algumas observações:
1ª) No caso do infinitivo, não
usamos a forma reduzida. Ninguém diz que “ele deve tar em casa”. Todos dizem:
“Ele deve ESTAR em casa”.
2ª) Em textos formais, que
exijam uma linguagem mais cuidada, não devemos usar as formas reduzidas: Eu
estou em casa (em vez de “tô em casa”); Ele está feliz (em vez de “ele tá
feliz”).
3ª) Devemos evitar as formas
“tive” (por estive), “teve” (por esteve), “tiver” (por estiver), pois pode
gerar ambiguidade. “Aqui ele não virá se tiver doente”. Se tiver (do verbo TER)
doente (= houver doente) OU se ele estiver (do verbo ESTAR) doente?
Na chamada língua padrão, não existe o tal
verbo TAR. O verbo é ESTAR e não devemos usar as formas reduzidas. Diga e
escreva: estou, está, estamos, estão, estava, estive, esteve, estiver…
O leitor quer saber
1ª) Onde está erro na
frase “Conheceu sua mulher quando
ele teve na Bahia”?
Não podemos, em hipótese
alguma, confundir TEVE (pretérito perfeito do indicativo do verbo TER) com
ESTEVE (do verbo ESTAR): “Ele não TEVE tempo para resolver o problema”;
“Conheceu sua mulher quando ele ESTEVE na Bahia”.
2ª) Está OU estar?
ESTÁ é a terceira pessoa do
singular do presente do indicativo: “Ele ESTÁ confiante”; “O advogado já ESTÁ
no escritório”.
ESTAR é o infinitivo: “Ele
deve ESTAR confiante”; “O advogado só vai ESTAR no escritório amanhã”.
Esse tipo de dúvida se deve à
tendência de omitirmos, no português coloquial falado no Brasil, o “r” final
dos verbos: “vou falá” (vou falar); “vai vendê” (vai vender); “deve parti”
(deve partir).
Essa confusão, entretanto, só
acontece em verbos em que a terceira pessoa do singular do presente do
indicativo é semelhante à forma do infinitivo: está ou estar; vê ou ver; crê ou crer;
lê ou
ler… Ninguém confunde diz com dizer, faz com fazer, tem com ter,
quer com querer…
Assim sendo, em caso de
dúvida, podemos usar este artifício:
a) Se ele DIZ, FAZ, TEM ou
QUER, é porque ele ESTÁ ou VÊ;
b) Se ele vai DIZER, FAZER, TER ou QUERER, é
porque ele vai ESTAR ou VER.
3ª) VIR ou VIM?
VIR é infinitivo e VIM é forma
da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: “Ele deve
VIR só na próxima semana”; “Ele pode VIR quando quiser”; “Ontem eu não VIM
trabalhar”.
As frases “Eu não vou vim” e
“Ele só vai vim amanhã” são totalmente inaceitáveis. Seria caso de infinitivo:
“vou VIR” e “vai VIR”. O melhor é dizer: “Eu não VIREI” e “Ele só VIRÁ amanhã”.
4ª) VER ou VIR?
VER é infinitivo e VIR é
infinitivo de outro verbo (VIR) ou é forma do futuro do subjuntivo do verbo
VER. O futuro do subjuntivo do verbo VIR é VIER.
1) Ele deve VER o filme
(infinitivo do verbo VER);
2) Quando ele VIR o filme, mudará de opinião
(futuro do subjuntivo do verbo VER);
3) Ele deve VIR à reunião imediatamente
(infinitivo do verbo VIR);
4) Quando ele VIER para o Brasil, entenderá
melhor o problema (futuro do subjuntivo do verbo VIR).
Assim sendo, a frase “Se eles
VEREM de perto o que aconteceu, vão entender melhor os nossos problemas” é
inaceitável. O correto é “Se eles VIREM de perto o que aconteceu…” Nessa frase,
devemos usar o verbo VER no futuro do subjuntivo.
É o mesmo caso de “quando a gente se vê de
novo”. Em língua padrão, devemos dizer “quando nos VIRMOS de novo”.
5ª) PREVER ou PREVIR?
É a mesma explicação dada no
caso anterior. A regra que vale para os verbos primitivos (VER e VIR) vale para
os verbos derivados (PREVER, REVER; INTERVIR, PROVIR).
PREVER é infinitivo e PREVIR é forma do futuro
do subjuntivo: “Ele pode PREVER tudo que lhe acontecerá durante este ano”; “Ele
poderá ser promovido se PREVIR o resultado das negociações”.
Teste
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases:
1) Aquela mulher sempre foi
_______ maior ídolo;
2) Estava em coma _______________;
3) Ela era ____ membro da academia.
(a) o seu / alcoólico / um;
(b) a sua / alcoólica / uma;
(c) o seu / alcoólica / uma;
(d) a sua / alcoólico / um;
(e) o seu / alcoólica / um.
Resposta do teste:
letra (a). Os substantivos
ÍDOLO, COMA e MEMBRO são masculinos: “Ela é o seu maior ídolo”; “coma
alcoólico” e “ela era um membro da academia”.
Mais dúvidas dos leitores
1ª) Autoimagem OU
auto-imagem?
Pela regras atuais, com o
prefixo AUTO (= si mesmo), devemos usar hífen quando a palavra seguinte começa
por H, R, S ou vogais. Esse é o caso de “imagem”; o correto, portanto, é
AUTO-IMAGEM.
Com a nova reforma
ortográfica, só haverá hífen quando a palavra seguinte começar por “h” ou
“vogal igual” à vogal final do prefixo. Isso significa que deveremos escrever
autoimagem (sem hífen).
2ª) Bom dia OU bom-dia?
Depende.
Um bom dia é um dia bom. São duas palavras:
bom (adjetivo) + dia (substantivo): “Espero que todos vocês tenham um bom dia”.
A saudação é “BOM-DIA” (com hífen):
“Cumprimentou a todos com um bom-dia caloroso”.
3ª) Cocho OU coche?
COCHO é um recipiente de
madeira ou de outro material, geralmente usado como bebedouro ou comedouro: “O
gado foi trazido, porque a comida já estava no cocho”.
COCHE é um tipo de carruagem
fechada, de estilo antigo: “O conselheiro ainda não tinha descido do coche”.
4ª) Viagem OU viajem?
VIAGEM é substantivo: “A nossa
viagem a Brasília foi adiada para a semana que vem”; “Tenham todos uma boa
viagem”.
VIAJEM é a terceira pessoa do
plural do presente do subjuntivo do verbo VIAJAR: “Preciso que vocês viajem a
Brasília na próxima semana”.
5ª) Acesas OU acendidas?
Leitor quer saber se “as luzes
foram acesas ou acendidas”.
Os verbos que apresentam dois particípios
devem seguir a seguinte regra:
a) Com os verbos auxiliares TER e HAVER,
devemos usar a forma regular: “Ele TINHA aceitado, entregado, salvado,
imprimido…”;
b) Com os verbos auxiliares SER e ESTAR,
devemos usar a forma irregular: “Isso não FOI aceito, entregue, salvo,
impresso…”
Assim sendo, “As luzes FORAM
ACESAS”.
6º) “A corrida será na
madrugada de sábado para domingo.”
O leitor tem razão. Não existe
“madrugada de sábado para domingo”. O que se quer dizer é que a corrida será na
madrugada de domingo. Madrugada é o período do dia que vai da zero hora até o
amanhecer.
O problema é a clareza. Como
muita gente não sabe que a madrugada de domingo começa na meia-noite do sábado
(= 0h de domingo), teme-se que o telespectador não entenda e perca a corrida.
Ele talvez imagine que a madrugada de domingo seja após a noite de domingo, que
na verdade já é a madrugada da segunda-feira.
7º) “Ela prefere reflexos a
comida.”
O leitor não tem razão. Não há
crase no exemplo acima.
Ele tem razão quando afirma que a regência do
verbo PREFERIR exige a preposição “a” (quem prefere sempre prefere alguma coisa
“a” outra).
O problema é que não temos
artigo definido antes do substantivo “comida”. Observe que não há artigo antes
do substantivo “reflexos”. Isso porque o autor da frase está usando “reflexos”
e “comida” no sentido genérico (sem artigo definido).
Observe melhor as diferenças
no esquema abaixo:
1. Com artigo definido: “Ela prefere as
compras à comida”;
2. Sem artigo definido: “Ela prefere compras a
comida”;
3. Com artigo: “O carioca prefere a praia ao
trabalho”;
4. Sem artigo: “O carioca prefere praia a
trabalho”.
Teste
Que opção completa corretamente a frase “Brandura e grosseria
alternam-se em seu comportamento; já não o suporto, pois _________ é o traço
dominante; ___________, o esporádico”?
(a) aquela / esta;
(b) essa / aquele;
(c) aquele / esse;
(d) esta / aquela;
(e) esta / essa.
Resposta do teste:
letra (d). Se não o suporto, é
porque o traço dominante é a grosseria (=ESTA, porque está mais próximo). O
esporádico é a brandura (=AQUELA, porque ficou mais distante).
Onde está o ‘erro’?
1º) “Não deixe ele perder a prova.”
Nossa leitora tem certa razão.
Embora seja uma característica da língua coloquial do português no Brasil, o
uso do pronome reto (ele), na função de complemento verbal (objeto direto),
ainda é inaceitável na língua padrão.
Em nossos concursos, em geral
se exige a forma clássica: “Não o deixe perder a prova”. Devemos usar os
pronomes oblíquos (me, te, se, o, a, nos…) com verbos causativos (mandar,
deixar, fazer) + infinitivos.
O popular e usualíssimo “Deixa
eu tentar” deve ser substituído, na língua padrão, por “Deixe-me tentar”.
2º) “Foi um furto com violência.”
Nosso leitor tem razão. A
frase é incoerente. Perante a lei, furto e roubo não são sinônimos.
Se houve violência, não foi furto, e sim
roubo. Segundo o dicionário Houaiss, furto é “ato de subtração de coisa móvel
pertencente a outra pessoa” e roubo é “crime que consiste em subtrair coisa
móvel pertencente a outrem por meio de violência ou grave ameaça”.
Assim sendo, o cleptomaníaco
tem “mania de furtar”, e não de roubar. E um imóvel (casa, apartamento) não
pode ser roubado ou furtado. Quando uma casa é assaltada, objetos podem ser
furtados (casa vazia = se os moradores estiverem viajando, por exemplo) ou
roubados (se os moradores forem ameaçados pelos ladrões).
Latrocínio é roubo seguido de
morte.
No caso de automóveis, é importante saber a
diferença entre o seguro só contra roubo e o contra roubo e furto, que é sempre
mais caro.
3º) “Renunciar uma coisa tão importante.”
Nosso leitor não tem razão. O
verbo RENUNCIAR, no sentido de “não querer, recusar, rejeitar; desistir da
posse, abdicar; deixar de crer, renegar” pode ser transitivo direto ou
indireto: “Renunciou os prazeres da mesa” e “Renunciou a uma herança”;
“Renunciou o trono” e “Renunciou ao poder”; “Renunciou a fé” e “Renunciou a
suas velhas convicções”.
Assim sendo, “Renunciar uma coisa tão
importante” está tão correto quanto a “Renunciar a uma coisa tão importante”.
4º) “Eu amo minha família. Eles são maravilhosos!”
Nada errado.
Temos aqui uma típica silepse de número. É
também conhecida por concordância ideológica: o pronome “eles” substitui a
idéia de família (=familiares). Segundo a concordância lógica, deveríamos usar
o pronome “ela” para substituir “família”: “Eu amo minha família. Ela é
maravilhosa!”.
É o mesmo caso de “A polícia
entrou na casa. Ela começou a procurar…” Também seria correto: “Eles (os
policiais) começaram a procurar…”.
5º) “Nem os alunos não são tão bem-treinados.”
Nosso leitor tem razão. A
construção da frase está estranha, pois o uso do advérbio de negação (não) é
dispensável. Bastaria dizer “Nem os alunos são tão bem-treinados”. A frase
ficaria bem mais clara.
6º) “Surgem anjos proclamando paz na Terra e a Deus louvor.”
O leitor não entendeu direito
a frase por uma razão muito simples: os anjos proclamam a paz na Terra e louvam
a Deus (eles não proclamam louvor a Deus).
A frase está incoerente. Ela
está sintaticamente mal construída: a paz na Terra e o louvor a Deus seriam
dois complementos do verbo proclamar. Isso não faz sentido.
São duas orações independentes
(coordenadas aditivas): “Surgem anjos que proclamam a paz na Terra e que louvam
a Deus” ou “Surgem anjos proclamando a paz na Terra e louvando a Deus”.
Teste
Assinale a opção que completa corretamente as lacunas das frases
abaixo:
1) “Eram muitas ___________ e ____________.”
2) “Eça de Queiroz é o autor de ____________.”
3) “No século XIX eram __________ e agora
__________.”
(a) Marias e Joões / Os Maias
/ os Andradas e os Silvas;
(b) Maria e João / Os Maia / os Andrada e os
Silva;
(c) Marias e Joãos / Os Maias / os Andrada e
os Silva;
(d) Marias e Joões / Os Maia / os Andradas e
os Silva;
(e) Marias e Joãos/ Os Maias / os Andrada e os
Silvas.
Resposta do teste:
letra (a). A princípio,
antropônimos (= nomes próprios de pessoas = prenomes e sobrenomes) fazem plural
de acordo com as nossas regras básicas: Marias, Joões, Maias, Andradas, Silvas…